Quatro vias para o golpe nos EUA

António Santos

A cada novo tweet, Trump levanta um pouco o véu sobre o golpe que está em cima da mesa da sala oval. Vencer a pugna eleitoral respeitando as regras democrático-burguesas está, para já, fora dos planos dos republicanos. Podem resumir-se a quatro as linhas de ataque, possivelmente cruzadas, com que o partido republicano conjura o roubo das eleições.

Ir a votos e não aceitar o resultado

Trump avisou que a contagem dos votos poderá demorar «anos». Há meses que o presidente procura descredibilizar o acto eleitoral de Novembro lançando suspeitas sobre alegados planos democratas para cometer uma fraude através do voto por correspondência. O hiato entre a contagem e a publicação dos resultados pode permitir-lhe uma jogada para se perpetuar no poder.

Incriminar Biden na véspera das eleições

O procurador-geral, William Barr, antecipa a divulgação dos resultados da investigação Durham para a véspera das eleições, uma «surpresa de Outubro», que pode comprometer o candidato democrata, Joe Biden, envolvendo-o directamente numa teia de complexas acusações criminais.

Adiar ou suspender o escrutínio

Trump já o pediu publicamente: adiar as eleições por não estarem reunidas as condições de segurança. Para fazê-lo, contudo, não basta ao presidente declarar o estado de emergência porque os serviços postais não conseguem lidar com o voto por correspondência: Trump precisaria de justificar esta decisão com um clima de caos, terror e excepção. Concorre para esta via a recente decisão de reduzir o número de testes à COVID-19, uma opção eleita depois de se concluir que a pandemia está a afectar principalmente os Estados governados pelo Partido Democrata. Outra solução seria um conflito internacional ou mesmo um ataque terrorista, real ou de falsa bandeira.

Fraude no dia 3 de Novembro

O magnata-em-chefe anunciou a criação de uma milícia com 50 mil «vigilantes eleitorais» para policiar, intimidar e intervir nas mesas de voto que lhe são desfavoráveis. Esta «vigilância» poderá ser a antecâmara de uma intervenção paramilitar semelhante à que vimos nas semanas anteriores. Nos Estados governados por republicanos, milhares de assembleias de voto estão a ser encerradas nas zonas com mais imigrantes e negros, dificultando o exercício do voto também através da exigência de mais documentação.

Biden débil, em todos os sentidos

Perante a perspectiva real de um golpe, a impotência do Partido Democrata reflecte-se na debilidade política e cognitiva do seu candidato. Joe Biden não é apenas fraco, confuso e lento quando fala. Também o é política e moralmente, no seu percurso tão colado às mesmíssimas opções da administração Trump no favorecimento dos privilégios e das desigualdades, na guerra imperialista e na recusa de conceder ao povo estado-unidense direitos básicos de saúde, educação e habitação. O único mérito facilmente reconhecível em Biden é não ser Trump. E só isso não basta para impedir um golpe.




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