Revolução

Filipe Diniz

O inevitável António Barreto já veio opinar sobre o centenário da Revolução de Outubro («O grande embuste», DN, 5.02.2017). Não há nada que se salve. Gasta o arsenal completo do anticomunismo mais odiento: depuração, deportação, limpeza étnica, colectivização, trabalhos forçados, tortura, assassinato, rapto, prisão em números que se elevam a muitos milhões, fomes programadas, genocídio, pura opressão, apoio aos movimentos subversivos (aqui há um deslize, um «socialista» devia evitar a linguagem do fascismo) e revolucionários do mundo inteiro, desde que em luta contra as metrópoles coloniais, contra as democracias (outra distracção, Barreto! Estará a referir-se ao nazi-fascismo?) e contra os países do mundo ocidental, métodos bárbaros, etc., etc. O esperado, enfim.

Barreto pertence ao tipo de gente cujas opiniões devem ser medidas por aquilo que fizeram quando tiveram poder. Não é pelo seu doentio anticomunismo que ficará na história, é pelo papel assumido na criminosa destruição da Reforma Agrária.

Nem o facto de a URSS ter desaparecido o modera, e é capaz de estar aí a principal motivação. O que provoca este salivar dos Barretos deste mundo não é a revolução passada. É o que ela representou, representa e representará no caminho da história, que não se deteve com a derrota da URSS. A Revolução de Outubro não se repetirá, porque condições históricas particulares não se repetem. Mas, tal como sucedeu antes da derrota da URSS, e voltará a suceder depois dela pelo mundo inteiro, outras revoluções abrirão aos povos o caminho do socialismo.

E já agora, neste ano de centenário, convém clarificar que, para os comunistas, a palavra revolução não tem o significado estrito do momento decisivo em que se altera de vez a correlação de forças entre as classes em confronto. Revolução é a modificação radical das relações sociais de produção e é a transformação, de cima abaixo, de toda a sociedade até aí existente. E como a nossa Revolução de Abril mostrou de forma exemplar, é, no fundamental, obra e construção criadora das massas em movimento, finalmente protagonistas centrais do devir humano.

Para desgosto de todos os Barretos, celebrar Outubro é celebrar o que há-de vir.




Mais artigos de: Opinião

Guerra na Europa

O estado de guerra latente no Donbass conheceu um novo agravamento. Os combates que vitimaram dezenas de civis desde finais de Janeiro são considerados os mais intensos dos últimos 12 meses e coincidem com a entrada em funções de Trump nos EUA. Imagens da BBC captaram tanques ucranianos na...

O «radicalismo do amor»

Por nomeação de P. Portas, referendada em congresso, Assunção Cristas é presidente do CDS-PP há um ano. Em Novembro escreveu no jornal da SONAE um texto que referia o «radicalismo do amor» como caminho alternativo aos «populismos». Em síntese, a...

Nada mais, nada menos

Os cidadãos Idália Serrão, Bagão Félix e Pedro Mota Soares foram ao cinema a convite do Expresso, ver «I, Daniel Blake», e ao que nos conta o jornal comoveram-se. O objectivo que presidiu à iniciativa foi o de debater o filme, que conta a história de um...

A voz das mulheres

O Movimento Democrático de Mulheres decidiu convocar para o próximo dia 11 de Março uma manifestação em Lisboa sob o lema «A voz das mulheres pela igualdade. Desenvolvimento. Direitos. Paz». Em boa hora o fez.

Divagações

Há dias, um jovem taxista em Lisboa (tinha 27 anos) afirmou-me o seu encanto pelo Pai Natal e «a tradição» que ele representava, ficando surpreendido quando o informei que o Pai Natal era uma invenção da Coca-Cola norte-americana nos idos de 1931, criando a figura (agora...