Olhó comboio
Todos os dias recebemos mails sobre os «privilégios» dos trabalhadores dos transportes. Têm origem na máquina de propaganda governamental, que fabrica dossiers secretos (chamam-lhes estudos) para distribuir entre jornalistas, comentadores e outros instrumentos afins.
As mentiras vertidas nesses «estudos» são tão flagrantes que eles nunca são assumidos publicamente – lembro o caso caricato ocorrido há um ano em que, no mesmo dia em que o DN publicava na capa um desses estudos, o secretário de Estado que o fornecera negava o seu conteúdo numa reunião com as ORT's do sector.
É jogo sujo e desleal, que se alimenta da mesquinhez e promove a divisão nos explorados. É um comportamento que não nos pode surpreender, pois suja e injusta é a própria exploração que é o pilar da ideologia desta gente.
A eficácia da máquina é tal que podíamos passar o resto da vida a repetir verdades como «não há barbeiros na Carris» ou «os estivadores não ganham cinco mil euros» que o efeito seria praticamente nulo, quer devido à desproporção de meios quer porque haveria sempre mentiras por desmentir ou dados por enquadrar.
Muitas vezes camaradas bem intencionados apelam a que se invista mais tempo na resposta a estas mentiras, sem se aperceberem de que pedem para esvaziar o oceano com um balde. O que é preciso é não nos deixarmos intimidar por este tipo de campanhas, ao mesmo tempo que esclarecemos quem quer ser esclarecido. Mas o verdadeiro escudo que anula o efeito destas mentiras é a consciência de classe – é essa que tem de crescer.
É nesse quadro que um facto objectivo, comprovável por todos pois trata-se de informação pública e publicada na Internet, tem sido sugerido como estruturante de uma resposta a muitas destas calúnias: no primeiro semestre de 2012 o Metropolitano de Lisboa gastou 34 milhões em salários e 297 milhões em juros e perdas swaps para a banca. Para transmitir a escala da coisa, sublinho que em 2012 o Metro vai entregar à banca mais dinheiro do que o que pagou aos seus trabalhadores em 10 anos de actividade!
(Parabolizando: vês um tipo fugindo de uma abelha imaginária meter-se numa linha de comboio. Gritas-lhe «a abelha é imaginária!» ou «olhó comboio!»?)