A dama de Berlim é que falou claro

Aurélio Santos

Merkel não veio a Portugal em visita de Estado ou para dialogar com o Presidente da República. Merkel veio «para alemão ver», cumprindo o seu calendário eleitoral. Mas algumas das declarações de Merkl não acertaram com as de Passos Coelho.

Em entrevista à RTP, a 13 deste mês, Merkel afirmava: «A Europa tem de ser competitiva com a China, Índia e América Latina». E já no início deste mês declarava a sr.ª Merkel no Parlamento Europeu: «A austeridade tem sido muito boa para Portugal, Irlanda e Grécia pois tem permitido baixar os custos laborais».

Merkel deixou assim o seu discípulo Coelho de careca a descoberto.

Revelou os reais objectivos da «austeridade» de P. Coelho: baixar os salários, baixar os salários ao nível da Índia, Indonésia, China e América Latina.

Bem pode P. Coelho esconder os objectivos do seu Governo com discursos sobre a dívida, o défice ou os «créditos internacionais»...

Antes de vir, teria sido prudente para a dama de Berlim conhecer um pouco da nossa História. Ficaria a saber que Portugal não é um apeadeiro para ficar à espera doutro comboio. Saberia o que o povo de Lisboa já em 1385, quando viu a nossa soberania ameaçada, murmurava: «querem vender Portugal que tantas cabeças e sangue nos custou» – dizia Fernão Lopes na sua Crónica de D. Fernando.

Ontem como hoje deixamos claro que em Portugal não suportamos dominações. Nem queremos ficar reféns do fanatismo ideológico de uns quantos políticos sem coluna dorsal que se comportam como marionetes do grande capital.

Somos um país com mais de oito séculos, muito antes de a Alemanha ser um Estado.

Quando Passos Coelho acolheu Merkel de cabeça baixa e postura subordinada fez-me lembrar o penoso discurso de Isabel Jonet do Banco Alimentar quando falava de «os seus pobrezinhos»...

O compromisso dos portugueses não é com a troika mas com a sua História, com o seu passado. E com o seu futuro.



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