O sucesso... de quem?

Anabela Fino

Os troikos estiveram em Portugal para mais uma avaliação – a sexta – do «bom aluno», mas desta vez não deixaram ninguém em suspenso pela simples razão de que o resultado já tinha sido anunciado pela autorizada voz da senhora Merkel, precisamente com uma semana de antecedência. Este pormenor, que terá feito com que em vez dos habituais 15 dias os homens da troika só tenham ficado por cá uma semana, não impediu o Governo de rejubilar.

Aliás, antes mesmo de Vítor Gaspar anunciar o resultado ao País já de Braga chegava a convicção do sucesso pela voz de um dos ministros mais versado em avaliações. Falamos em Miguel Relvas, evidentemente, que à margem de outro evento não resistiu ao impulso de dizer estar à espera de que Portugal passasse «com distinção» no exame, que não sendo de faculdade nem por isso era menos previsível.

Quanto ao ministro das Finanças, fez saber que a situação é difícil e muito adversa, mas o programa continua a progredir. O «sucesso» permite libertar uma tranche de 2,5 mil milhões de euros, com chegada anunciada para Janeiro, com o que se atingirá 80 por cento do empréstimo negociado.

Com Portugal no «bom caminho», é curioso que a troika tenha revisto em baixa as suas previsões para 2014: em vez de um crescimento de 1,2 por cento do PIB, fala agora de apenas 0,8 por cento. Nada que preocupe Vítor Gaspar, para quem as estimativas, em 2014, «apontam para uma recuperação da procura interna e um crescimento das exportações», e para a diminuição do desemprego, o qual entrará numa «tendência descendente para 15,9 por cento». E tudo isto apesar dos «riscos e incertezas» que não podem ser ignorados. Gaspar estará a pensar nas consequências do corte de 4000 milhões nas funções sociais do Estado que está a preparar, mas isso também não o perturba, tal como não parece incomodado com o facto de todas as suas previsões saírem furadas.

A conclusão a retirar só pode ser uma; Gaspar, que está longe de ser burro ou incompetente, tem um objectivo inconfessável a alcançar: liquidar o que resta das conquistas de Abril. Será esse o sucesso, que já propagandeia pela Europa, como fez ontem na Alemanha, por que espera ser premiado com distinção. A menos que o povo o «examine» primeiro...



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