Arre macho!
Cavaco Silva, Presidente da República, e UGT, central sindical, marcaram a semana com intervenções políticas assinaláveis.
O primeiro, dizendo que os 10 mil euros mensais, que recebe de duas reformas assumidas, «não dão para as despesas» e forçam-no a «recorrer às poupanças».
A UGT aceitando formalizar, «em nome dos trabalhadores», um acordo com patronato e Governo que pretende desregulamentar mortalmente a generalidade das leis laborais conquistadas com a Revolução de Abril.
Pode dizer-se que ambos cumprem (mais uma vez) velhos papéis.
Cavaco Silva exibindo o seu espesso etnocentrismo largamente evidenciado numa longa carreira política, desde o petulante «não tenho dúvidas e raramente me engano» dos tempos governamentais, ao inacreditável queixume presidencial de que reformas de 10 mil euros/mês «não dão para as despesas».
Já agora, aconselhamos o presidencial economista a não mexer nas poupanças antes de consumir os vários milhares de euros que a função de Presidente da República lhe atribui mensalmente para despesas – e que Cavaco Silva, prudentemente, se esqueceu de acrescentar aos 10 mil euros mensais das «reformas de miséria» de que se queixa.
Quanto à UGT, cumpriu mais uma vez o papel que se lhe conhece desde a sua fundação: a de «central sindical» sempre disponível a oficializar, com a sua assinatura, todos os ataques ao Código do Trabalho e aos direitos dos trabalhadores promovidos pelas sucessivas políticas de direita dos governos PS ou PSD, todas também sempre zelosas a satisfazer a insaciável predação do patronato na exploração dos trabalhadores.
Por isso a UGT ficou logo conhecida, no mundo do trabalho, por epítetos esclarecedores, como «central amarela» ou central divisionista, que a dita sempre confirmou ao longo do tempo.
Todavia, desta vez a UGT deu uma passada muito para além da perna.
Primeiro, ao assumir-se como o que nunca foi: uma «central sindical» que pode representar «os trabalhadores portugueses». Toda a gente sabe – embora já quase ninguém o diga na comunicação social – que a UGT está muito longe de representar a maioria dos trabalhadores. Essa maioria sempre esteve na CGTP-IN, a central sindical que mergulha as origens na luta contra o fascismo, ao contrário da UGT, gerada oportunisticamente após o 25 de Abril com a missão de sabotar a luta dos trabalhadores. Lembram-se do Gonelha, do PS, a ginchar que «hei-de quebrar a espinha à Intersindical»?
Segundo, ao caucionar com a assinatura do seu secretário-geral, o mimoso Proença, a mais devastadora ofensiva contra os direitos dos trabalhadores consagrados no Código do Trabalho, e jamais ousada pelo patronato e as governações de direita. Esta «caução» da UGT – como todas as anteriores – não representa a maioria esmagadora dos trabalhadores sindicalizados, mas permite ao Governo e ao patronato proclamarem a vitória temperada pelo «apoio dos trabalhadores».
Arre macho! Isto começa a ser demais...