O exame

João Frazão

Na pas­sada se­mana, a Re­vista Exame fez uma edição es­pe­cial com as 500 mai­ores e me­lhores em­presas de 2010. Vale a pena ler!
São 500 em­presas do uni­verso das mais de 300 mil exis­tentes no país, mas que têm um vo­lume de vendas na ordem dos 123,9 mil mi­lhões de euros, o que cor­res­ponde a 71,7% do PIB por­tu­guês, e ac­tivos no valor de 179,6 mil mi­lhões de euros, ou seja, mais de 100% do PIB na­ci­onal.
Estas em­presas au­men­taram em 130% (sim, cento e trinta por cento) os seus lu­cros face a 2009, ainda que aqui es­teja con­si­de­rado o valor da venda da VIVO pela PT; mesmo des­con­tando esse factor ex­tra­or­di­nário, o au­mento de lu­cros situa-se nos 27,8% a somar aos 17% de 2009.
O que estes nú­meros põem a nu, é a con­cen­tração da ri­queza nas mãos de cada vez menos. É a ali­e­nação para o ca­pital es­tran­geiro duma parte sig­ni­fi­ca­tiva da ri­queza na­ci­onal: 42,4% destas 500 em­presas são to­tal­mente de­tidas por ca­pital es­tran­geiro.
Mas há ainda dois ou­tros ele­mentos que quero su­bli­nhar, e que não estão na re­vista do Grupo Im­presa.
O pri­meiro re­sulta da Con­ti­nental Mabor, fá­brica de pneus si­tuada em Fa­ma­licão, ter sido con­si­de­rada a me­lhor do ran­king. Ora a Mabor con­segue este feito no ano em que os seus tra­ba­lha­dores con­se­guiram im­pedir, com a sua luta e uni­dade, a ten­ta­tiva da ad­mi­nis­tração de cortar o sa­lário dos tra­ba­lha­dores de fim-de-se­mana em cerca de 300€ por mês. Não é pois a luta dos tra­ba­lha­dores que cria di­fi­cul­dades às em­presas e ao seu de­sen­vol­vi­mento!
O se­gundo de­corre de, no sector Têxtil e do Ves­tuário, a maior e a me­lhor em­presa serem, res­pec­ti­va­mente, a Zara Por­tugal e a Bershka Por­tugal. Eis o mais aca­bado exemplo de como se amassa for­tunas. Estas são as em­presas que na sua li­gação com cen­tenas de pe­quenas uni­dades que para elas tra­ba­lham a feitio, es­magam os preços, os prazos de en­trega, aplicam multas por in­cum­pri­mentos de que são elas mesmo, muitas vezes, res­pon­sá­veis.
E nesta re­lação de au­tên­tica pre­dação, todos os dias há con­fec­ções que não re­sistem, há tra­ba­lha­dores que acordam sem em­prego, há fome e mi­séria a crescer.
Talvez de­vesse sair daqui a per­gunta de Al­meida Gar­rett, re­for­mu­lada – quantos po­bres é pre­ciso para fazer uma grande em­presa?



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