A visita do sr. Banqueiro

Vasco Cardoso

Como fugir nestes textos ao pacto de agressão que está em curso e à necessidade da sua rejeição? Na realidade portuguesa actual tudo gira em torno desta abominável ofensiva contra os trabalhadores e o povo que conheceu na passada 5ª feira (dia 13) um novo salto qualitativo com o anúncio pelo Governo de um conjunto de medidas do próximo Orçamento do Estado.

Escolho, no entanto, um pormenor que me parece revelador quanto às opções que determinam este rumo de desastre nacional e à natureza de classe da política que está em curso. Duas horas antes de Passos Coelho se dirigir ao País para anunciar o roubo dos subsídios de Natal e de férias, o aumento da jornada de trabalho com redução de salários, a subida dos preços por via do IVA e tudo quanto mais foi dito visando o agravamento da exploração, o banqueiro Ricardo Salgado (Banco Espírito Santo) deslocou-se ao edifício onde decorria a reunião do Conselho de Ministros que haveria de decidir tais medidas.

Antes que alguém suspeitasse que o banqueiro estivesse ali para falar dos milhões de dinheiros públicos a entregar à banca, das privatizações, dos benefícios fiscais, Ricardo Salgado acabaria por «revelar» o motivo da sua presença: «questões de imigração», disse. Eis um feliz exemplo de casamento entre o cinismo e a imaginação.

Mas mesmo que essa presença de última hora se não tivesse verificado, ou se dois dias antes (dia 11) não se tivesse registado uma reunião entre banqueiros e o Governo, já para não trazer à memória o roteiro que os mesmos fizeram em Abril por Belém e São Bento antes do pedido de entrada da troika em Portugal, bastaria olhar para as decisões que têm vindo a ser tomadas por PS, PSD e CDS para concluir que na ponte de comando do país e da União Europeia está, de facto, o capital financeiro.

Uma velha tradição de família, estes encontros dos Espírito Santo com o poder político, que teve o seu ponto alto no tempo do fascismo. Um tempo de fome, de pobreza, de repressão, de opressão. Um tempo para onde estão a conduzir hoje o País. Um tempo que foi derrotado com a Revolução de Abril e do qual os banqueiros têm razões para sentir saudades.



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