O Irão na mira do imperialismo

Rui Paz

São bem co­nhe­cidos os mé­todos uti­li­zados por Washington para di­a­bo­lizar es­tados que não se sub­metam

Os Es­tados Unidos anun­ci­aram ter des­co­berto a pre­pa­ração de um aten­tado ira­niano contra o em­bai­xador da Arábia Sau­dita em Washington. Mas o des­cré­dito da maior po­tência mi­litar em ma­téria do «cha­mado com­bate ao ter­ro­rismo» é tão grande, que até uma parte sig­ni­fi­ca­tiva da im­prensa norte-ame­ri­cana e eu­ro­peia não es­conde o seu cep­ti­cismo face aos ele­mentos apre­sen­tados pela Casa Branca. Basta re­cordar o golpe do an­trax, a in­ven­tona das armas ató­micas do Iraque e das li­ga­ções de Bagdad à Al-Qaida para ra­pi­da­mente se com­pre­ender o que po­derá estar por de­trás de tão in­só­lita re­ve­lação. Como sa­li­enta o cor­res­pon­dente em Washington da re­vista alemã Der Spi­egel «o prin­cipal acu­sado, Mansor Ar­bab­siar, é um ira­niano des­pas­sa­rado com pas­sa­porte ame­ri­cano, ex-ven­dedor fa­lido de carros usados e de pe­tiscos turcos, co­nhe­cido, se­gundo os seus vi­zi­nhos, por perder as chaves, a car­teira e o te­le­móvel. Nunca se in­te­ressou por re­li­gião nem po­lí­tica mas por droga e ál­cool». É pouco cre­dível que um homem com tal perfil es­teja en­vol­vido num plano tão com­plexo dos ser­viços se­cretos ira­ni­anos, sendo acu­sado de ter con­tra­tado um bando de cri­mi­nosos al­ta­mente pe­ri­goso do cartel da droga me­xi­cano para as­sas­sinar o em­bai­xador da Arábia Sau­dita em Washington, e que, por in­fe­li­ci­dade, tal plano tenha ido parar às mãos de um in­for­mador da po­lícia norte-ame­ri­cana.

 

Feliz­mente que hoje são bem co­nhe­cidos os mé­todos uti­li­zados por Washington para di­a­bo­lizar es­tados que não se sub­metam,

 

São muitas as ra­zões que levam o ac­tual pre­si­dente norte-ame­ri­cano, prémio Nobel da Paz, a pro­curar novos campos de ba­talha e mais mo­tivos de con­fron­tação. Não tendo con­se­guido até agora di­vidir o mundo árabe e mu­çul­mano no apoio à pro­cla­mação como membro da ONU do Es­tado livre, so­be­rano e in­de­pen­dente da Pa­les­tina, e con­fron­tado com o veto da Rússia e da China contra a es­ca­lada in­ter­ven­ci­o­nista contra a Síria, Obama pro­cura aci­catar as con­tra­di­ções entre Te­erão e Riad na es­pe­rança de, tal como na guerra contra a Líbia, poder contar cada vez mais com o apoio das mo­nar­quias feu­dais do cha­mado Con­selho do Golfo para es­tender o do­mínio im­pe­ri­a­lista dos Es­tados Unidos a todo o Médio Ori­ente. Por isso, os guer­reiros de Obama pros­se­guem o as­sas­sínio à dis­tância por aviões te­le­gui­ados dos ad­ver­sá­rios de Washington. Se­gundo os nú­meros ofi­ciais do Pen­tá­gono, tais exe­cu­ções sem jul­ga­mento ma­taram até agora 33 re­beldes mi­li­tares e 1457 civis. No Pa­quistão, a im­prensa fala de muitos mi­lhares de mortos entre a po­pu­lação.

Para me­lhor en­ganar os povos, as po­tên­cias da NATO cos­tumam chamar às mon­ta­nhas de ca­dá­veres pro­vo­cadas pelos seus bom­bar­de­a­mentos «danos co­la­te­rais». Mas tanto so­fri­mento au­men­tará a cons­ci­ência dos povos do Médio Ori­ente de que nesta fase su­pe­rior e cri­mi­nosa do ca­pi­ta­lismo, as ver­da­deiras re­vo­lu­ções de­mo­crá­ticas e li­ber­ta­doras não podem deixar de visar o im­pe­ri­a­lismo, a de­fesa da so­be­rania na­ci­onal e da jus­tiça so­cial, e de se di­ri­girem contra o poder do ca­pital fi­nan­ceiro e da bur­guesia mo­no­po­lista, a mais pe­ri­gosa e brutal classe ex­plo­ra­dora e opres­sora da his­tória da hu­ma­ni­dade.



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