Um crime em três actos

Vasco Cardoso

A história do BPN não é um caso excepcional ou anormal no mundo em que vivemos. Não representa um desvio do chamado funcionamento regular dos mercados. Não foi um desvario ganancioso de um punhado de parasitas. A história do BPN é sobretudo espelho do capitalismo, naquilo que ele comporta de subordinação do poder político ao poder económico, de corrupção, do Estado entendido como instrumento do grande capital, da livre circulação de capitais e da crescente financeirização da economia, de agravamento da exploração de todo um povo para servir os lucros de alguns.

O processo do BPN constituiu, com diferentes protagonistas e decisores, um crime em três actos: o que correspondeu ao período de gestão mafiosa de Oliveira e Costa, Dias Loureiro e Cia; o que decorreu da «nacionalização» dos prejuízos do banco pelo Governo PS, deixando de fora todo o património do Grupo SLN, onde este se incluía; e o que agora se concretiza, pela mão do Governo PSD/CDS, com a sua entrega ao BIC - detido por capitais angolanos e por Américo Amorim – limpo de qualquer encargo e com menos de metade dos trabalhadores.

Para o povo português sobra a pesada factura de cada um destes três actos: cerca de 1800 milhões de euros, de imparidades, já contabilizadas nas contas públicas; cerca de 500 milhões de euros que o Estado ainda injectará para «recapitalização» antes de vender o banco; o valor das indemnizações de centenas de trabalhadores a despedir; e o que CGD não conseguir vender dos 3900 milhões de euros de «activos» que passou a deter do banco, onde se inclui muito do chamado lixo tóxico, e que podem valer...coisa nenhuma. Longe de estar encerrado, nos próximos anos, o povo português continuará a pagar com sacrifícios, com desemprego, com pobreza, a roubalheira que este processo revelou.

Poderia ter sido de outra forma? Sim! Mas então, não teríamos governos submetidos aos interesses da burguesia monopolista, nem o País estaria a ser alvo de um programa de agressão externa por parte da UE e do FMI, nem as sucessivas propostas do PCP nesta matéria teriam sido recusadas, e nem o capitalismo seria, afinal de contas, aquilo que verdadeiramente é.

A história do BPN desenvolve criativamente a acertiva frase de Brecht: «Melhor do que roubar um banco é fundar um».



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