<i>Forbes</i>

Henrique Custódio

A revista Forbes surgiu há 25 anos nos EUA como uma espécie de Hola! dos ricos, alinhando anualmente as maiores fortunas do planeta num ranking onde o dinheiro se mede às pilhas. Para se ter uma ideia das «pilhas», cada uma corresponde a mil milhões de dólares.

Portanto, a unidade de conta neste ranking é de mil milhões de dólares e os seus utentes já não cabem na velha hierarquia dos milionários: para os medir, só de multimilionário para cima.

A edição deste ano da Forbes saiu há dias e merece atenção. Por exemplo, diz que os multimilionários do planeta (os ditos com mais de mil milhões) atingiram este ano os 1210. Com um pormenor: são mais 214 do que em 2010.

Ou seja, em plena «crise global» e em apenas um ano surgiram mais 214 multimilionários, a mais de mil milhões por cabeça e abichando, todos, insondáveis biliões do dinheiro mundial.

Nada mau, como ilustração da «crise».

Mas a Forbes conta mais coisas. Como a de que, entre estes 1210 podres de ricos, há uns tantos (não diz é quantos) a ultrapassar até o inimaginável. Mas, feitas as contas – e sempre segundo a Forbes – estes 1210 «afortunados» totalizam a módica quantia de 4,5 biliões de dólares (para «verem» com olhos de gente, escrevam 4,5 com 12 zeros à frente...).

Mas o ranking da Forbes não se fica pelas exibições individuais da riqueza, organiza igualmente competições geográficas como se achasse estes ricos não apenas donos de fortunas colossais, mas também de países e continentes inteiros.

Foi assim que ficámos a saber que os EUA, em 2011, continuam à frente com 413 multimilionários, mas isso corresponde já, e apenas, a 33% do total, quando há apenas 10 anos detinham metade desses afortunados mundiais. É uma descida de peso, entretanto compensada pela subida de outros (o capitalismo também tem horror ao vazio – mal um deixa de abocanhar, logo outro lhe rouba a presa): os chamados «países do BRIC» (Brasil, Rússia, Índia e China) estão paulatinamente a deixar para trás os EUA e a Europa em matéria de multimilionários, enquanto a Ásia/Pacífico se tornou numa autêntica «fábrica» deles: só num ano (entre 2010 e 2011) «cresceu» de 234 para 332 multimilionários (um terço a mais).

Quanto à Europa, como «velho mundo» do capitalismo reinante merece encómios moderados: segundo a Forbes, o ano passado era o segundo continente mais «rico» em multimilionários (tinha 248), mas este ano de 2011 foi batida pela Ásia/Pacífico com os tais 332.

Todavia, a «velha Europa» continua a deter um «lugar honroso» nesta matéria «graças à Rússia»: no antigo país dos sovietes os multimilionários crescem como cogumelos (em proporção directa com a miséria social que se reinstalou) e Moscovo até já conquistou o título de «cidade com mais multimilionários», batendo Nova Iorque por 79 conta 58.

Este breve panorama do capitalismo mundial servido como história cor-de-rosa tem um efeito perverso: mostra como a terrível «crise global» resultante da «pressão dos mercados» e da «competição internacional» não passa de um monumental embuste, com o qual os actuais senhores desta especulação em roda livre se locupletam com insaciável voracidade.

Marx provou que a riqueza só pode resultar do trabalho humano. Uma ínfima minoria apropriar-se tão completamente dela é uma desumanidade que só pode resultar em confronto mortal.



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