Romper a alternância, quebrar a continuidade

Paulo Raimundo (Membro da Comissão Política)

Numa al­tura em que estão em curso de­sen­vol­vi­mentos po­lí­ticos im­porta si­tuar o que está ver­da­dei­ra­mente em causa e a res­pec­tiva ar­ru­mação das forças em pre­sença. O que está em causa é a de­fesa de in­te­resses pro­fun­da­mente an­ta­gó­nicos – de um lado os in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, das po­pu­la­ções, das novas ge­ra­ções, da grande mai­oria dos por­tu­gueses e do País, e do outro os in­te­resses do grande ca­pital na­ci­onal e in­ter­na­ci­onal.

A luta terá de ser ca­na­li­zada para a rup­tura e para a mu­dança

Image 7089

É aqui que se jogam as ver­da­deiras op­ções. Tudo o resto, as ine­vi­ta­bi­li­dades, os mer­cados, a crise, o dé­fice, o su­premo in­te­resse na­ci­onal, são meras mis­ti­fi­ca­ções e po­eira ati­rada para os olhos. Cada um de­fende os seus in­te­resses e o ca­pital, como nin­guém, de­sen­volve esta má­xima de forma exem­plar.

Acu­mu­lando e con­cen­trando a ri­queza criada por todos nós, o ca­pital detém o poder eco­nó­mico, con­centra em si os grupos de co­mu­ni­cação so­cial com os quais di­funde as suas ideias e es­colhe quem e o que deve ou não ser, em cada mo­mento, va­lo­ri­zado. Mas o que ver­da­dei­ra­mente de­cide da sua in­fluência é o do­mínio sobre o poder po­lí­tico, usando os seus par­tidos em função dos seus in­te­resses de médio e longo prazo, op­tando pelas ar­ru­ma­ções par­ti­dá­rias que estão em me­lhores con­di­ções para con­cre­tizar os seus planos, fo­men­tando a al­ter­nância na con­ti­nui­dade.

Uma al­ter­nância que faz rodar no poder ora o PS ora o PSD, com ou sem o CDS; uma al­ter­nância que cria ilusão e fo­menta a ideia de que são todos iguais, adi­ando sempre para mais tarde um fu­turo me­lhor; uma al­ter­nância que pro­cura ali­viar a pressão so­cial, des­viar as aten­ções dos ver­da­deiros res­pon­sá­veis da si­tu­ação, con­cen­trando os des­con­ten­ta­mentos não nas po­lí­ticas mas nos seus rostos; uma al­ter­nância que, in­de­pen­den­te­mente da forma, mantém sempre a con­ti­nui­dade.

 

Mudar o mo­to­rista ou a ca­mi­o­neta?

 

Para os in­te­resses do ca­pital pouco im­porta quem são os pro­ta­go­nistas – PS, PSD ou CDS. Qual­quer um deles, só ou em con­junto, ga­rante que se mantém a ma­triz fun­da­mental da po­lí­tica de di­reita. E se em algum mo­mento estes seus par­tidos não forem su­fi­ci­entes, o ca­pital não he­si­tará em pro­curar ou­tras formas de do­mi­nação po­lí­tica.

O que está em causa neste mo­mento não é o PEC 4, 5 ou 6, mas um pro­jecto mais pro­fundo. Hoje mesmo, no Con­selho Eu­ropeu, está a ser feita uma de­cla­ração de guerra aos tra­ba­lha­dores, ao povo e ao País: mais cortes nos sa­lá­rios, au­mento da idade da re­forma, des­re­gu­la­men­tação da le­gis­lação la­boral, pri­va­ti­za­ções, ata­ques aos ser­viços pú­blicos e às fun­ções so­ciais do Es­tado, apoio à banca e ao ca­pital fi­nan­ceiro, perda de so­be­rania e in­de­pen­dência. E para o ca­pital o que in­te­ressa é saber quem está em me­lhores con­di­ções para con­ti­nuar a im­ple­mentar este plano em Por­tugal: se ainda o PS, se o PSD com a mu­leta do CDS, ou se todos juntos.

Há dias, um des­ta­cado di­ri­gente so­ci­a­lista re­corria a uma me­tá­fora para ex­plicar por que con­si­dera que não de­veria haver elei­ções an­te­ci­padas: «A si­tu­ação do País é como se fôs­semos todos numa ca­mi­o­neta a subir uma mon­tanha e a meio do per­curso mu­dá­vamos de mo­to­rista com a agra­vante de mu­darmos para um novo mo­to­rista que não co­nhe­cemos.» Aqui está uma ex­ce­lente de­fi­nição do pen­sa­mento do ca­pital. De facto, se for para con­ti­nuar a subir essa dita mon­tanha nessa mesma ca­mi­o­neta então para quê mudar de mo­to­rista?

 

O grande de­safio de lutar

 

O grande de­safio que está co­lo­cado aos tra­ba­lha­dores, às po­pu­la­ções, à ju­ven­tude, a todos os sec­tores atin­gidos pela po­lí­tica de di­reita é o de não bai­xarem os braços, de terem con­fi­ança nas suas ca­pa­ci­dades e con­fi­ança que, com a sua luta e de­ter­mi­nação, é pos­sível uma rup­tura com este rumo de de­clínio.

Uma luta que teve no pas­sado sá­bado, na ma­ni­fes­tação da CGTP-IN, uma clara de­mons­tração de pro­testo, in­dig­nação, força e com­ba­ti­vi­dade. Uma jor­nada cons­truída con­tacto a con­tacto, dis­cu­tida olhos nos olhos com os tra­ba­lha­dores e as po­pu­la­ções e que até ao pró­prio dia não teve uma re­fe­rência na co­mu­ni­cação so­cial ao ser­viço do ca­pital, e que ex­pressou a exi­gência de uma mu­dança de po­lí­tica, cada vez mais ur­gente e ne­ces­sária.

Uma luta que hoje mesmo se trava no Me­tro­po­li­tano e amanhã na CP, CP-Carga, REFER e nou­tras em­presas. Que en­volve ou­tros sec­tores, como os mi­lhares de es­tu­dantes dos en­sinos Bá­sico, Se­cun­dário e Su­pe­rior que hoje as­si­nalam o Dia Na­ci­onal do Es­tu­dante com ac­ções por todo o País, e que le­vará amanhã sec­tores da pesca para a As­sem­bleia da Re­pú­blica.

Uma luta que se tra­vará no dia 1 de Abril, na ma­ni­fes­tação da ju­ven­tude tra­ba­lha­dora, e que terá con­ti­nui­dade nas em­presas e lo­cais de tra­balho, nas es­colas, nas pe­quenas e grandes ba­ta­lhas do dia-a-dia. Uma luta que terá de ser ca­na­li­zada para a rup­tura e para a mu­dança e para o re­forço do PCP – a força de­ci­siva e fun­da­mental para a con­cre­ti­zação de uma po­lí­tica al­ter­na­tiva.



Mais artigos de: Opinião

Rapidamente e em força!

De Cavaco Silva já se espera tudo. Mas desta vez voltou a ultrapassar-se e a surpreender até os mais preparados. Ou alguém esperaria que Cavaco usasse a Presidência da República para tecer loas à guerra colonial, 50 anos depois? Pois foi exactamente isso que fez, no dia 15 de...

É um burguês!

Veio-me à ideia um dos poemas do Ary, do conjunto «Três retratos à lá minuta», quando, ao folhear o JN de domingo, tropeço numa entrevista ao presidente executivo da SONAE SGPS. São duas páginas em que o engenheiro químico, licenciado na...

Democracia Tomahawak

Estamos fartos de saber que o presidente Obama é pessoa de extrema sensibilidade. Mostra-o todos os dias no Afeganistão, no Iraque, na Colômbia, nas Honduras, enfim em todo o lado onde é necessário defender e aplicar os direitos humanos, a liberdade e a democracia. E só...

<i>Forbes</i>

A revista Forbes surgiu há 25 anos nos EUA como uma espécie de Hola! dos ricos, alinhando anualmente as maiores fortunas do planeta num ranking onde o dinheiro se mede às pilhas. Para se ter uma ideia das «pilhas», cada uma corresponde a mil milhões de dólares. Portanto, a...

Guerra contra os povos árabes

No preciso momento em que se completam 12 anos sobre a agressão contra a República Federal da Jugoslávia e oito anos sobre a invasão do Iraque mais uma vez um presidente norte-americano e os seus comparsas das potências imperialistas europeias desencadeiam uma guerra de agressão...