Rapidamente e em força!

Margarida Botelho

De Ca­vaco Silva já se es­pera tudo. Mas desta vez voltou a ul­tra­passar-se e a sur­pre­ender até os mais pre­pa­rados. Ou al­guém es­pe­raria que Ca­vaco usasse a Pre­si­dência da Re­pú­blica para tecer loas à guerra co­lo­nial, 50 anos de­pois?

Pois foi exac­ta­mente isso que fez, no dia 15 de Março, na ce­ri­mónia de ho­me­nagem aos com­ba­tentes que as­si­nalou o cin­quen­te­nário do início da guerra em África, em Lisboa.

Ca­vaco va­lo­rizou «a in­ter­venção mi­litar que per­mitiu que um País com a di­mensão e os re­cursos de Por­tugal pu­desse manter o con­trolo sobre três te­a­tros de ope­ra­ções dis­tintos, vastos e lon­gín­quos»; saudou «os mi­li­tares de etnia afri­cana que, de forma va­lo­rosa, lu­taram ao nosso lado»; afirmou «que os sol­dados por­tu­gueses foram, em África, sol­dados de ex­cepção». Tudo assim, a tre­sandar à pro­pa­ganda fas­cista e co­lo­nial, sem uma pa­lavra de con­de­nação da guerra, de va­lo­ri­zação da con­quista da in­de­pen­dência dos povos das ex-co­ló­nias por­tu­guesas ou da Re­vo­lução de Abril.

Mas Ca­vaco guardou o pior para o fim, quando se en­tu­si­asmou num dos seus apelos do cos­tume à ju­ven­tude: «importa que os jo­vens deste tempo se em­pe­nhem em mis­sões e causas es­sen­ciais ao fu­turo do País com a mesma co­ragem, o mesmo des­pren­di­mento e a mesma de­ter­mi­nação com que os jo­vens de há 50 anos as­su­miram a sua par­ti­ci­pação na guerra do Ul­tramar

Lê-se e não se acre­dita: mas Ca­vaco con­si­dera que a guerra co­lo­nial foi uma missão e uma causa «es­sen­cial»?! Ca­vaco terá noção da ofensa que fez a cen­tenas de mi­lhares de por­tu­gueses, obri­gados pelo fas­cismo a com­bater numa guerra cri­mi­nosa de que ainda hoje so­frem as con­sequên­cias, às suas fa­mí­lias e às dos que nunca re­gres­saram?! Ad­mite-se que a pri­meira fi­gura do Es­tado por­tu­guês se re­fira desta forma a es­tados so­be­ranos e in­de­pen­dentes como An­gola, Mo­çam­bique e Guiné-Bissau?!

O que Ca­vaco pa­rece não querer saber é que os jo­vens de hoje são os fi­lhos e os netos dos que foram obri­gados à guerra co­lo­nial até 1974 e que, na sua es­ma­ga­dora mai­oria, sabem quanto so­fri­mento sig­ni­ficou (e sig­ni­fica!) essa par­ti­ci­pação na guerra. Bem podem Ca­vaco e os seus querer bran­quear o co­lo­ni­a­lismo e a guerra. São mi­lhões os por­tu­gueses que os sabem des­mentir.



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