Guerra contra os povos árabes

Rui Paz

A agressão contra a Líbia faz parte da estratégia do imperialismo

No preciso momento em que se completam 12 anos sobre a agressão contra a República Federal da Jugoslávia e oito anos sobre a invasão do Iraque mais uma vez um presidente norte-americano e os seus comparsas das potências imperialistas europeias desencadeiam uma guerra de agressão contra um Estado soberano, desta vez a Líbia. A 24 de Março de 1999, a NATO – depois de ter em Rambouillet promovido a movimento de «libertação» o grupo paramilitar do UCK, até então considerado «terrorista» pelos serviços secretos e a diplomacia norte-americana – começou a bombardear a Sérvia e o Kosovo com o objectivo único de desmantelar um Estado que recusara abdicar da sua soberania face aos Estados Unidos e à União Europeia. Durante 78 dias a aviação militar ocidental destruiu a infraestrutura económica sérvia. Fábricas, auto-estradas, pontes, comboios, hospitais, embaixadas, edifícios de televisão e festas religiosas foram alvo da fúria belicista de uma aliança constituída pela social-democracia, a democracia-cristã, e os partidos democrata e republicano dos EUA.

Hoje, no Médio Oriente e Mediterrâneo, numa região enxameada de armas e bases militares estrangeiras sobretudo norte-americanas, acaba de ser desencadeada mais uma guerra contra os povos árabes. Para enganar a opinião pública, as potências ocidentais que no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão assassinam e massacram as populações civis invocam agora na Líbia querer proteger essas mesmas populações. Mas o seu verdadeiro objectivo é anteciparem-se, retirar a iniciativa aos movimentos populares, travar e fazer retroceder processos libertadores e revolucionários e recompor grupos e forças que se disponham a continuar a entrega ao estrangeiro das riquezas e da soberania dos seus países.


A agressão contra a Líbia é hipócrita, pois faz parte da estratégia do imperialismo de tentar subverter as aspirações democráticas, sociais e de independência nacional do movimento de libertação dos povos árabes, e simultaneamente confundir e esconder o carácter antidemocrático, explorador e opressor dos regimes ditatoriais e apátridas que durante décadas e décadas têm sido e continuam a ser alimentados, armados e protegidos pelo Ocidente para servir os seus interesses. Mas esta agressão é igualmente perigosa porque não é só a Líbia que está a ser bombardeada por uma bando de potências auto denominadas «comunidade internacional» mas são as próprias Nações Unidas, a Carta da ONU e todo o edifício do direito internacional que estão em risco de serem devorados pelas chamas. É uma vergonha que Portugal faça parte do grupo incendiário que votou favoravelmente a agressão contra a Líbia no Conselho de Segurança da ONU.


É necessário que a comunidade das nações livres e dos povos que aspiram à liberdade desmascare e trave quanto antes um processo que não só desacredita e subverte a ONU e os seus princípios como acabará por instaurar definitivamente a lei da selva nas relações internacionais. É preciso esclarecer que quando Obama, Sarkosy e Cameron falam em «democracia» não estão a referir-se à liberdade dos povos decidirem do seu destino, mas à liberdade para os monopólios internacionais de explorar, saquear e oprimir nações inteiras. Ninguém melhor do que Álvaro Cunhal desmascarou esta falsidade da retórica do grande capital: «O domínio mundial do capitalismo como sistema único e final teria como resultado e componente, segundo os seus teóricos, o “fim das ideologias” e o “pensamento único”. Trata-se de uma utopia da ofensiva global do capitalismo. O ser humano continua pensando. E o pensamento e ideologia dos trabalhadores e dos povos oprimidos serão sempre inevitavelmente opostos aos das potências e classes exploradoras e opressoras».

Os povos árabes e do Médio Oriente, e em primeiro lugar o povo palestiniano, assim como todos os povos oprimidos do mundo acabarão por se libertar do pesadelo imperialista e por demonstrar a hipocrisia das chamadas «guerras humanitárias» das bombas e massacres em nome da defesa dos «direitos humanos».



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