Justo e solidário?!

Margarida Botelho

Tem sido difícil ouvir Manuel Alegre nos últimos dias. É verdade que a bem colocada voz do candidato presidencial apoiado pelo PS e pelo BE fica normalmente mais fraquinha quando os problemas são sérios, mas – caramba! – custava a crer que não dissesse nada perante tal quadro social, económico e político.

Procurando bem, encontra-se. Há uma declaração do candidato no youtube. Diz Alegre, cheio de «responsabilidade nacional» que está consciente que a situação do país é muito difícil «agravada pela crise internacional» e por «pressões fortíssimas», que as medidas anunciadas pelo Governo são «duras e difíceis» e que incidem fundamentalmente «nos funcionários públicos, na classe média, nos pensionistas». E sobre isso tem «três notas» a assinalar, em nome da «equidade e da justiça»: que se devia exigir à banca uma maior contribuição; que deviam ser mais evidentes os esforços para cortar os gastos supérfluos; que se devia acrescentar às medidas um plano de incentivo ao crescimento e ao emprego.

Revelando que «estes sacrifícios pesam sobre pessoas concretas» e que a preocupação que sente reforça os motivos que o levaram a recandidatar-se, Alegre afirma, solene: «Eu penso que no futuro, mais do que nunca, é preciso um Presidente que garanta a função social do Estado e a estabilidade social como condição da própria estabilidade política».

E pronto. Cá está mais um momento de antologia para a biografia política de Alegre e seus apoiantes. Há um Governo que corta salários, cria desemprego, corta apoios sociais, congela pensões e o senhor não encontra melhor para dizer senão que «há pessoas concretas» envolvidas?! O que Alegre faz é juntar a sua voz ao coro dos que dizem que as medidas são inevitáveis. E, mais do que nunca, o que não é mesmo nada preciso é um Presidente assim.

No momento que se vive, não é de compaixão que os trabalhadores, o povo, a juventude, os reformados, precisam. Bem pode Alegre encher o país de cartazes dizendo-se «justo e solidário». O que é preciso é quem seja solidário com os trabalhadores e com a sua luta, que denuncie esta política e aponte caminhos alternativos. E isso só a candidatura de Francisco Lopes está em condição de fazer. 



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