Ofensiva no Afeganistão

Rui Paz

«É o imperialismo quem promove os sectores fundamentalistas para combater processos democráticos»

Comandos militares do Pentágono têm vindo a anunciar o envio, até ao Verão, de mais 20 a 30 mil soldados norte-americanos para o Afeganistão. É importante compreender porque é que os sectores da oligarquia que apostaram na eleição de Obama procuram manter e reforçar a estratégia da chamada «guerra contra o terrorismo». Uma estratégia muito mais abrangente e perigosa do que a da «guerra humanitária». «Terroristas» podem em princípio esconder-se em qualquer país, em qualquer lugar, bramir ameaças indefinidas e de difícil comprovação, mas facilmente apresentadas como perigos eminentes pelos serviços secretos, os média e os comandos da NATO.
Henry Kissinger, no prefácio do «Desafio da América», escrito e publicado na Alemanha já depois do 11 de Setembro de 2001, afirma que «na guerra contra o terrorismo o objectivo não é detectar terroristas», e que é sobretudo necessário «não deixar escapar esta ocasião excepcional de redesenhar o sistema internacional» («Die Herausforderung Amerikas» – versão alemã de «Does América need a Foreign Policy?»).
Os objectivos reais da agressão norte-americana contra o Afeganistão continuam oficialmente envoltos no mais obscuro mistério. A situação geoestratégia daquele imenso país, a sua posição chave na Ásia, a proximidade com a China e a Rússia são demasiado importantes para o imperialismo, mesmo com um novo presidente, poder enveredar pelo caminho do respeito da soberania dos povos e do direito internacional.

Os Estados Unidos e os seus aliados pretendem continuar a atacar um povo milenário e arrasá-lo militarmente com o pretexto de andar à procura de meia dúzia de terroristas, ex-amigos e colaboradores da CIA e do Pentágono.
Interrogado pelo semanário francês Nouvelle Observateur (815-21.01.1998), se não é lamentável ter apoiado no Afeganistão o fundamentalismo islâmico, fornecido armas e aconselhado futuros terroristas, o antigo conselheiro do presidente Carter, Brzezinsky responde: «o que é mais importante para a história mundial, um punhado de muçulmanos alvoroçados ou...o fim da guerra fria?».
Também Benazir Butto, assassinada há um ano num atentado no Paquistão, costumava explicar que a ideia dos Talibãs veio dos ingleses, a gestão era americana, o financiamento da Arábia Saudita e a organização estava a cargo dos serviços secretos paquistaneses (A Duplicidade do Ocidente. Le Monde, 30.10.2001).

A história do século vinte demonstra que é o imperialismo quem promove os sectores fundamentalistas para combater processos democráticos e revolucionários. O discurso fundamentalista cria a ilusão de que a retórica imperialista corresponde a um grau mais elevado de civilização, e faz crer que a violência é exportada do terceiro mundo para o mundo ocidental quando de facto são as potências capitalistas que, ao saquear e oprimir os povos dominados, exercem e provocam a violência. Como explica o almirante Schmähling, antigo chefe dos serviços secretos militares alemães, MAD, «são os Estados Unidos que criam os demónios que depois se propõem combater».


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