Valores de Abril estão agora inscritos nas paredes do Porto
Foi inaugurado, no dia 30, o segundo mural colectivo de azulejos alusivo aos valores de Abril. Desta feita, na cidade no Porto, no exterior da Estação de metro da Trindade. Muitos foram os que participaram na iniciativa, entre eles esteve Paulo Raimundo.
O Porto está hoje mais rico com os valores de Abril inscritos nas suas paredes
Na manhã de domingo, na Trindade, muitos foram os militantes e amigos do PCP (e tantos outros) que presenciaram a inauguração do mural de azulejos oferecido pelo PCP à cidade portuense. O segundo de dois, já que em Outubro do ano passado foi inaugurado outro mural em Lisboa, na calçada do Carmo, junto à Estação do Rossio.
À semelhança do que aconteceu na capital, também o mural do Porto é o resultado de um processo que se desenvolveu ao longo de mais de um ano. 736 azulejos compõem a segunda obra colectiva, inscrevendo os valores de Abril nas paredes da própria cidade. Para a elaboração dos azulejos realizaram-se dezenas de oficinas por todo o País, em que os participantes foram desafiados a exprimir o que é para eles Abril. Nesta segunda ocasião, e com o resultado final à vista, o mural desenha um padrão enorme de diversas cores, conquistas, direitos, artigos da Constituição da República Portuguesa (CRP) e tantos outros valores de Abril. Dele sobressai um enorme cravo e a palavra «Cumprir» que, tal como a própria Revolução, está inacabada.
O mural é o resultado de um grande trabalho colectivo, mas a direcção artística do projecto e a curadoria dos azulejos pertence a Miguel Januário, designer, artista plástico e militante comunista. A elaboração das duas obras e a sua instalação em ambas as cidades integra-se nas comemorações do PCP do 50.º aniversário do 25 de Abril de 1974.
Oferta generosa ao Porto
«Cada azulejo que compõe este mural é a prova da vitalidade de Abril. Desse Abril que é preciso ser retomado e estar presente na vida do nosso povo, todo os dias», começou por afirmar Paulo Raimundo que interveio a seguir ao descerramento do pano que escondia o mural. «Oferecemos este mural ao Porto, que a partir deste momento pertence à cidade», mas também, continuou, a todos «aqueles que cá trabalham, vivem, estudam e visitam esta terra».
A CRP, como sublinhou o Secretário-Geral, recebeu particular atenção por parte dos artistas que pintaram o seu próprio azulejo e justamente, pois tal como o mural ali inaugurado, também a «Constituição de 2 de Abril de 1976 foi a parede onde foram colocados os múltiplos mosaicos pintados a partir da luta dos trabalhadores e do povo, também ela construída a pulso e feita de muitas vontades».
Diferentes, mas iguais
«Que bonito foi ver pessoas de várias origens, idades, ocupações, a interpretar a lei fundamental do nosso País», salientou Paulo Raimundo. «Para este projecto não pedimos currículo a ninguém ou se era deste ou daquele partido. O que fizemos foi convidar e quem veio, veio por bem e fez cá muita falta», acrescentou, insistindo que isso mesmo «podem testemunhar as centenas de participantes nas oficinas realizadas: artistas conhecidos, outros que o serão um dia e muitos que apenas quiseram contribuir e participar, com a sua entrega e disponibilidade».
«736 pessoas juntas, todas elas protagonistas desta obra extraordinária. Todas elas que podem e devem dizer quando aqui passarem que esta obra também é sua. Uma obra colectiva que não só não anula o indivíduo, como o releva a um patamar de sujeito político e social transformador», afirmou.
Abril de novo
O dirigente falava sobre as «crianças, mulheres, homens, jovens, mais velhos, alunos e professores, artistas, operários e intelectuais, trabalhadores e reformados» que «disseram sim à participação e sim a Abril». Esse Abril que voltará a «sair à rua em menos de um mês, que continuará no 1.º de Maio e que está na luta de todos os dias pela vida melhor a que temos direito». Esse Abril que é também da «democracia cultural com a qual o PCP está profundamente empenhado».
Para Paulo Raimundo, aquela obra é igualmente uma «exigência de liberdade», onde estão inscritos os «cravos, os capitães e trabalhadores», mas também as «inquietações, preocupações, a resistência, igualdade, as massas e a sua luta, os salários, pensões, o SNS, a Escola Pública, o acesso à habitação, os direitos das crianças e, de forma particular, a cultura e a Paz».
Porto merece mural de Abril
«Ao oferecer à cidade esta obra colectiva, o PCP homenageia o Porto, mas também a região, os seus trabalhadores e as suas gentes, as colectividades e outras organizações populares, os sindicatos, os militantes comunistas e outros democratas que souberam receber e tomar nas suas mãos os desígnios de transformação revolucionária», salientou, por sua vez, Alfredo Maia, candidato da CDU por aquele círculo eleitoral nas próximas eleições legislativas.
Sobre o local onde foi instalado o mural, o candidato afirmou ser uma estação onde «chegam e partem tantas gentes e outras tantas esperanças» e onde, na Revolução, entre vários outros pontos da cidade, «muitos confluíram para saudar a liberdade, logo descendo a Avenida a exigir mudanças e transformações».
Miguel Januário começou por agradecer às cerca de 1800 pessoas que, entre o Porto e Lisboa, participaram na concepção dos dois murais e ao Ismael (inscrito, entretanto, no PCP), ladrilhador que ajudou na sua elaboração. Para o artista, para quem foi uma «alegria» ver tanta gente a participar naquele processo, a defesa de Abril está salvaguardada: «Daqui a outros 50 anos, cá estaremos. Se não estivermos nós, estarão cá outras pessoas, porque Abril não é uma memória, nem será uma memória. Abril é uma esfera de valores de uma sociedade mais justa e mais digna e estará sempre aqui alguém para a defender».
A iniciativa, apresentada por Diana Ferreira, candidata da CDU à presidência da CM do Porto às eleições autárquicas de próximo Setembro, contou ainda com a actuação dos Coralistas do Porto, acompanhados, ao piano, por Fausto Neves.