Silenciar as armas e construir a paz

Carlos Lopes Pereira

O Conselho de Segurança reúne-se, a 4 de Abril, para debater exclusivamente a crise no leste da República Democrática do Congo (RDC). Será mais uma tentativa para pôr fim a uma guerra que já causou milhares de vítimas e provocou uma situação humanitária catastrófica.

O enviado especial da ONU para os Grandes Lagos, Huang Xia, deslocou-se nesta semana a Kinshasa, onde manteve conversações com o presidente congolês, Félix Tshisekedi, para quem a reunião do Conselho de Segurança constitui uma oportunidade para se conseguir baixar as tensões actuais. Do seu lado, Xia garantiu a «firme vontade» das Nações Unidas de acompanhar e apoiar os países da região em «todos os esforços de paz e segurança». Realçou que a comunidade internacional, a União Africana e as organizações regionais africanas estão mobilizadas visando conseguir «uma solução duradoura e global para garantir a paz e a estabilidade». E ressaltou que a aplicação da resolução aprovada pela ONU sobre o conflito e o relançamento dos processos de Luanda e Nairobi «são os principais desafios para poder alcançar esses propósitos».

No terreno, as tropas antigovernamentais do Movimento 23 de Março (M23), apoiadas pelo Ruanda, avançam no leste da RDC, tendo já conquistado as capitais provinciais de Kivu Norte (Goma) e do Kivu Sul (Bukavu). Os insurgentes assediam, em especial, as zonas mineiras mais ricas como Walikale, onde se localiza a sede da companhia Alpha Mines, ou como Rubaya, considerada o «pulmão económico» do sector mineiro no Kivu Norte e que é responsável por metade da produção de coltão na RDC.

No plano humanitário, a guerra no leste congolês já provocou mais de três milhões de deslocados (só em 2024), uma parte dos quais não tem acesso a ajuda devido à insegurança e ao isolamento provocados pela violência. O Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) tem alertado para o trágico impacto da guerra na população civil da RDC, com um sem número de mortos, feridos e refugiados, com o surgimento nas zonas flageladas de casos de desnutrição e cólera, com as violações e outros abusos.

Outra guerra em África que não pára, com 24 mil mortos e 14 milhões de deslocados em dois anos, é a do Sudão, opondo o Conselho Soberano de Transição (CST), liderado pelo general Abdel Fattah al-Burhan, às Forças de Apoio Rápido (FAR), chefiadas pelo general Mohamed Hamdan Dagalo.

Num país com geografia privilegiada – situado no nordeste africano, com acesso directo ao Mar Vermelho – e com grandes riquezas naturais, os dois senhores da guerra contam com apoios externos, sendo os mais visíveis, mas não os únicos, os do Egipto a Al-Burhan e dos Emiratos Árabes Unidos a Dagalo.

Já em Março, as tropas do CST libertaram a cidade de Omdurman, na margem leste do Nilo e próxima de Cartum, e tentam expulsar as milícias das FAR da capital. Embora significativos, os êxitos do exército governamental não indiciam uma rápida vitória militar já que os seus inimigos controlam diversos Estados no sul sudanês.

Organizações como a ONU e a União Africana não conseguiram até agora silenciar as armas no Sudão e na RDC, condição indispensável para que os povos desses países possam consolidar a paz e construir o desenvolvimento a que têm direito.

 



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