Novo poder reaccionário e obscurantista na Síria

Lusa


Uma reunião alargada entre os líderes dos grupos armados sírios anunciou, no dia 29, a dissolução de importantes instituições do Estado, incluindo o parlamento, a reformulação das forças armadas e de segurança, que passam a ser formadas por esses grupos, e o fim dos partidos políticos e forças sociais integrantes da Frente Progressista Nacional (FPN), com carácter secular e anti-imperialista.

Foi de igual modo revelada a «assunção» de Ahmed Al Sharaa – anteriormente conhecido por Abu Mohammad al-Julani, líder do grupo armado HTS e acusado de terrorismo – como presidente da Síria, assumindo poderes executivos e legislativos absolutos. Anunciada foi, ainda, a constituição de um conselho legislativo provisório, até que se aprove e entre em vigor uma nova Constituição (a actual foi abolida).

Estas decisões foram adoptadas numa situação de grande influência da Turquia e após reuniões com representantes dos EUA, da UE e de diversos países europeus e árabes, que conspiraram durante anos contra a República Árabe Síria.

Entre os partidos ilegalizados contam-se o Partido Baath Árabe Socialista, que governava o país desde 1963, o Partido Comunista Sírio, o Partido Comunista Sírio (Unificado), o Partido Socialista do Ressurgimento Árabe ou o Partido Socialista Unionista, entre outras forças, às quais foi negada a liberdade de reunião e de expressão e confiscados os bens, não podendo reorganizar-se enquanto forças políticas sob qualquer outra designação.

Trata-se da repressão de forças patrióticas e seculares que resistiram durante anos à agressão de Israel, dos grupos terroristas apoiados desde o exterior e do imperialismo, e lutaram em defesa da soberania, independência e integridade territorial da Síria, do seu carácter secular, multi-étnico e multi-religioso, da unidade do povo sírio.

Comunistas resistem

Numa declaração divulgada após a sua ilegalização, o Partido Comunista Sírio repudia a perseguição às «verdadeiras forças nacionais e democráticas» e considera que, sob o novo poder, prevalece um clima de violência, com assassinatos, raptos, roubos, pilhagens e extorsão. Denuncia ainda o despedimento de dezenas de milhares de trabalhadores da administração e serviços públicos e critica a actual discriminação de cidadãos com base nas suas convicções políticas e crenças. Trata-se, pois, de um regime ditatorial, obscurantista, com grande influência da Turquia, apoiado por potências imperialistas e governos árabes reaccionários.

Também o Partido Comunista Sírio (Unificado) difundiu uma declaração rejeitando a decisão «injusta» de dissolver os partidos da FPN. Tal medida, realça, contradiz «as promessas feitas pela nova administração de não monopolizar o poder e trabalhar para unir a voz dos sírios», assim como «as aspirações do povo a um sistema democrático civil», impedindo «a construção de uma nova Síria, como é desejo de todos os segmentos do povo sírio».

Os comunistas sírios, cujo percurso tem mais de 100 anos de existência, tendo lutado em diversas circunstâncias, asseguram que não se submeterão a esta decisão e que continuarão a luta, enfrentando a opressão e a perseguição. Os comunistas sírios apontam como uma das suas primeiras tarefas trabalhar para unir as fileiras de todas as forças progressistas do país.

 



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