Aliança no Sahel

Carlos Lopes Pereira

Os cofres do Solidarity Bank, em Bamaco, guardam hoje três toneladas de ouro apreendidas pelo governo maliano à empresa mineira canadiana Barrick, como garantia de pagamento de impostos devidos ao Estado do Mali.

O diferendo agravou-se em Novembro do ano passado, quando as autoridades judiciais do país africano detiveram quatro executivos da multinacional, por falta de acordo sobre o pagamento de impostos em dívida. Nos começos deste mês, o magistrado que acompanha o caso advertiu por carta a empresa canadiana que as três toneladas de ouro, avaliadas em 180 milhões de dólares, seriam apreendidas como garantia da liquidação da dívida fiscal.

Este não foi o primeiro conflito do governo do Mali (um dos principais produtores africanos de ouro) com uma companhia estrangeira visando garantir a renegociação de acordos sobre a participação do Estado nos benefícios da exploração dos recursos naturais do país. Em finais de 2024, o director e dois funcionários da empresa Resolute Mining foram detidos à chegada à capital maliana e libertados só depois da transnacional australiana aceitar pagar 160 milhões de dólares em impostos devidos.

Não é de estranhar esta atitude do governo de Bamaco em defesa dos interesses nacionais do país e do reforço da sua soberania. O Mali, com o Burkina Faso e o Níger, decidiram em tempos recentes expulsar dos seus territórios as tropas expedicionárias francesas (e norte-americanas, no caso nigerino), encerrar as bases militares estrangeiras, estabelecer um acordo de defesa colectiva e retirar-se da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (Cedeao). Renunciando aos vínculos neocoloniais que mantinham com a ex-metrópole, a França, intensificaram a cooperação entre si e com novos parceiros, nas áreas económica e da defesa, com o objectivo declarado de alcançar a paz e acelerar o desenvolvimento.

Os três países, que criaram em Setembro do ano passado a Aliança dos Estados do Sahel (AES), decidiram agora formar e preparar uma unidade militar conjunta, de cinco mil efectivos, que estará no terreno dentro de semanas. O ministro da Defesa do Níger, general Salifou Mody, explicou há dias, em Niamey, que esta força especial, equipada com meios modernos, ajudará a combater a violência terrorista, da responsabilidade de grupos ligados à Al-Qaeda e ao «Estado Islâmico» que há mais de uma década flagelam as populações sahelianas. Vincou que a força conjunta representa uma mudança no que diz respeito à colaboração regional e visa não só enfrentar os grupos extremistas mas também consolidar a soberania dos três países. Dados da ONU indicam que, actualmente, há no Sahel cerca de 2,6 milhões de pessoas deslocadas à força devido ao terrorismo, que tem aumentado.

Numa outra medida importante para o fortalecimento da AES, o Mali, que ocupa a presidência rotativa da aliança, anunciou a entrada em vigor de um passaporte para a livre circulação no seio dos três países. O general Assimi Goita, à frente do governo maliano, informou que o novo passaporte será efectivo desde 29 de Janeiro, substituindo o documento semelhante antes emitido pela Cedeao. E precisou que serão tomadas medidas para garantir a eficácia da livre circulação de pessoas e mercadorias no espaço dos membros da aliança tripartida, fortalecendo a sua independência e soberania.

 



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