Pretensões de Trump têm razões económicas e geo-estratégicas
As pretensões agora afirmadas ou reafirmadas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump, relativas à Gronelândia, ao Canal do Panamá ou ao Canadá têm um evidente significado político e, tanto a história dos EUA como a prática do imperialismo norte-americano, aconselha a que sejam levadas a sério.
Se a invasão do Panamá pelos EUA, em 1989, lembra até onde o imperialismo norte-americano está disposto a ir para salvaguardar os seus interesses e hegemonia, a pretensão do domínio da Gronelândia também não é nova: a intenção de “comprar” este território gerido pela Dinamarca tinha já sido colocada por Trump durante a sua primeira presidência, sem esquecer que Harry Truman, igualmente presidente dos EUA, ponderou essa opção já em 1946. Recorde-se ainda que os EUA têm uma base militar permanente na Gronelândia, instalada após a Segunda Guerra Mundial.
Se é evidente o interesse geo-estratégico dos EUA na Gronelândia – situada a meio caminho entre a América e a Europa e junto ao Ártico –, este não é o único: a Gronelândia dispõe de reservas significativas de petróleo, gás natural, urânio e das chamadas “terras raras”, fundamentais para as indústrias tecnológicas.
O anúncio descarado destas pretensões da nova administração norte-americana, pela voz de Donald Trump, que não descarta a utilização da força militar e da imposição de medidas coercivas no plano económico para as alcançar, põe em evidência o que efectivamente representa a denominada «ordem mundial baseada em regras», ou seja, o «posso, quero e mando» do imperialismo, em confronto com os princípios do direito internacional e os direitos e a soberania dos povos. O imperialismo, e particularmente o norte-americano, quer continuar a impor a “lei do faroeste”, para dominar, colonizar e saquear.