Uma errata para a presidência polaca da UE
“Segurança, Europa!” é o lema da presidência polaca da UE.
Naquelas duas palavras se encerraram assim, de uma assentada, as mistificações da propaganda com que se tenta sustentar uma política determinada e orientada por opções de classe contrárias aos interesses dos trabalhadores e dos povos. Isso justifica que se faça uma errata daquela proclamação. E a primeira nota de correcção é para que onde se lê “Segurança” se leia “Militarismo e guerra”.
Na verdade, esse é o elemento político central desta presidência polaca. Em consonância com as orientações políticas estratégicas da UE, a presidência polaca propõe-se dar ao militarismo e à guerra lugar de destaque na sua acção.
Insistir no fornecimento de armas e equipamentos militares para prolongar a guerra na Ucrânia, aumentar os gastos militares no espaço da UE, criar capacidade de produção industrial para alimentar a corrida aos armamentos são alguns dos aspectos mais visíveis dessa opção. Soma-se a isso a insistência na política de sanções, cujas consequências continuam a somar-se no fardo que pesa cada vez mais na degradação das condições de vida dos povos.
Obviamente que, se estes objectivos fossem assumidos com essa franqueza, o coro de críticas e a rejeição popular condená-los-iam ao fracasso. Por isso se recorre à velha técnica de propaganda de falar de segurança sempre que se quer fazer o caminho do militarismo e da guerra.
A segunda correcção que se impõe é a substituição da “Europa” que aparece como destinatário da ordem de comando a caminho do militarismo e da guerra. Na verdade, é para “servir os grandes interesses económicos e financeiros e não os povos” que esta política e as suas opções se fazem.
Quando a UE e a sua presidência polaca apontam a prioridade ao militarismo, fica pelo caminho a prioridade que devia ser dada à resposta aos problemas dos trabalhadores e dos povos. O que “vai para os canhões não vai para a manteiga”... Por isso é preciso procurar com uma lupa para encontrar nas prioridades da presidência polaca referências a questões como a saúde ou a coesão. E referência aos trabalhadores e aos seus direitos, nem vê-la.
Em sentido contrário, dá-se prioridade ao militarismo favorecendo os grandes interesses económicos e financeiros que se movem por detrás do negócio bilionário do armamento e estende-se esse favorecimento a outros sectores económicos, como o da energia, sob o desígnio da “competitividade”.
Acrescenta-se a isto um conjunto de opções reaccionárias em matéria de migrações, fronteiras, segurança interna, políticas para o controlo da comunicação e informação.
O somatório é claramente contrário aos interesses dos povos e favorável aos desígnios do grande capital.
Da proclamação inicial, salvar-se-á talvez a vírgula. Tenhamos, no entanto, em conta que a soma que ela indicia é razão de uma luta que tem de prosseguir muito para lá da semântica.