Palestinianos resistem à recolonização de Gaza por parte de Israel

Israel prossegue com total impunidade o genocídio na Faixa de Gaza, a escalada de violência na Cisjordânia e os bombardeamentos no Líbano, agravando a tragédia nesses territórios. Os “ultimatos” dos EUA e os “avisos” da UE, sem efeitos concretos, soam a hipocrisia.

Os crimes de Israel só são possíveis com o apoio e a cumplicidade que conta dos EUA, NATO e UE

Segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), 1,84 milhões de pessoas na Faixa de Gaza – de um total de pouco mais de dois milhões – enfrentam «níveis extremamente críticos de insegurança alimentar aguda». Os ataques permanentes das forças israelitas, garante a FAO, destruíram «70 por cento dos campos agrícolas, dizimaram meios de subsistência e sistemas locais de produção alimentar». A isto acresce o colapso nos serviços de saúde e a restrição severa das actividades comerciais e do acesso da ajuda humanitária.

É no Norte do território que a situação é mais grave, devido ao bloqueio severo imposto por Israel à entrada de alimentos naquela zona, onde se concentram 400 mil pessoas. Várias organizações internacionais referem-se a um plano deliberado para expulsar a população palestiniana do Norte da Faixa de Gaza, visando a sua reocupação (o chamado Plano General, desenvolvido pelo general na reserva Giora Eiland). Esta convicção é confirmada pela notícia – veiculada pela própria imprensa israelita – do apoio do Likud, partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, a uma iniciativa do movimento sionista Nachala, intitulado “Preparar a colonização de Gaza”.

O Nachala notabilizou-se pela construção (ilegal, mas perfeitamente tolerada pelas autoridades israelitas) de colonatos na Cisjordânia e assume como objectivo final da sua acção a anexação total da Palestina, ou seja, da Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental. «Gaza é nossa. Para sempre», lia-se no cartaz do evento, considerado pelo próprio Nachala não como uma conferência teórica, mas como um «exercício prático e de preparação para uma nova colonização de Gaza».

 

Massacre prossegue e agrava-se
Israel intensifica os bombardeamentos contra a população palestiniana na Faixa de Gaza, desde logo a que se encontra aglomerada em acampamentos instalados junto a escolas ou hospitais, ou ao que resta de umas e de outros: 23 hospitais (de 38) estão totalmente inoperacionais e quase mil trabalhadores do sector da Saúde foram mortos no último ano; cerca de 125 escolas e universidades encontram-se completamente destruídas.

Em Jabalia, no ataque à escola Abu Hussein, transformada em acampamento, pelo menos 28 pessoas foram mortas, entre elas crianças. Segundo um responsável de Saúde do território, Medhat Abbas, «não há água para apagar o fogo. Não há nada. Isto é um massacre (…). Civis e crianças estão a ser mortos, queimados sob fogo». Este ataque segue-se a outros, semelhantes, um pouco por todo o território. As imagens de um deles, contra um acampamento em Deir el-Balah, correram mundo, mostrando o jovem de 19 anos Sha’ban al-Dalou a ser consumido pelas chamas.

Na quinta-feira, 17, foi morto no Sul da Faixa de Gaza o líder do Hamas, Yahya Sinwar. Ao contrário do que Israel vinha repetindo, Sinwar não estava escondido em túneis usando reféns como “escudos humanos”, antes morreu a combater, como as próprias imagens divulgadas por Israel provam. A resistência palestiniana garante que a luta contra a ocupação vai prosseguir.

Em pouco mais de um ano, Israel assassinou mais de 42 mil pessoas na Faixa de Gaza, segundo os dados do Ministério da Saúde local, bem mais conservadores do que outros, que apontam para números ainda mais brutais. A organização Save the Children (Salvem as Crianças) garante que dos mortos confirmados mais de 14 mil são crianças e haverá ainda naquele território palestiniano 17 mil crianças sozinhas ou separadas das suas famílias e outras quatro mil sob os escombros ou até mesmo enterradas em valas comuns.

No Líbano, Israel prossegue os ataques aéreos e terrestres. Um dos ataques, na cidade de Nabatieh, no Sul do país, matou o presidente da câmara local, que se encontrava numa reunião de crise precisamente sobre como prestar auxílio à população perante as consequências da agressão israelita. O exército invasor voltou a atacar uma base da força das Nações Unidas (UNIFIL) no Sul do Líbano e há denúncias de que tenha usado fósforo branco, proibido internacionalmente, contra a resistência libanesa.

Entretanto, a Associação Libanesa de Medicina Social acusa Israel de ter usado bombas com urânio empobrecido no final de Setembro em bombardeamentos no Sul de Beirute. O presidente da associação, Raif Reda, garantiu à agência nacional de notícias que estão a ser recolhidas amostras que serão depois enviadas às Nações Unidas «para que o mundo possa testemunhar a história criminosa, sangrenta, do inimigo sionista». O urânio empobrecido, usado pelos EUA nas agressões ao Iraque e à Jugoslávia, deixou um rasto de doenças e morte, provocado pelas partículas tóxicas que liberta.

Cumplicidade mal disfarçada
Os crimes que Israel comete todos os dias – ao vivo e por vezes em directo – só são possíveis graças à cumplicidade e apoio que lhe é concedido pelos EUA e outras potências ocidentais da NATO e da UE. Os “avisos” e “ultimatos” dos últimos dias não são para levar a sério: resultaram da pressão popular (dada a dimensão da tragédia) e não de qualquer real intenção de alterar o conluio com Israel.

Se os EUA procuraram alijar responsabilidades do cerco cada vez mais apertado que Israel impõe aos palestinianos no Norte da Faixa de Gaza, apresentando um prazo de 30 dias para que melhorasse a situação humanitária na região, sob pena de poder vir a sofrer cortes na sua ajuda militar, na prática a situação real é bem diferente: os EUA estão a instalar o sistema de mísseis THAAD em Israel, novos contingentes militares norte-americanos foram deslocados para a região a fim de “proteger Israel” e o financiamento militar norte-americano a Telavive atingiu no último ano 17,9 mil milhões de dólares.

Menos dissimulado é o governo alemão. A ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, justificou no Parlamento germânico os ataques israelitas contra populações, usando os pretextos dos próprios sionistas. Entretanto, depois do Governo português ter finalmente retirado a bandeira portuguesa do navio Kathrin (que leva explosivos para Israel), a Alemanha prontificou-se a autorizar que o navio prosseguisse a sua viagem sob bandeira alemã.

 



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