Restrições e condicionamentos orçamentais: 4 citações e uma conclusão

João Oliveira

Ao contrário do que andaram a dizer os deputados de PS, PSD e CDS que aprovaram as novas regras da Governação Económica, confirma-se agora que Portugal é um dos países mais negativamente atingido por elas. Num relatório recente pode ler-se que «Os dois países para os quais o novo quadro exige um ajustamento significativamente maior do que o quadro anterior são a Finlândia (3,2% do PIB no caso de quatro anos e 2,1% no caso de sete anos) e Portugal (1% e 0,7%, respetivamente)»1.

Isso acontece apesar de até o FMI já reconhecer que «em média, as consolidações orçamentais não reduzem os rácios da dívida em relação ao PIB».

A realidade demonstra que essas restrições e condicionamentos não são solução para problema nenhum, são sim origem de múltiplos problemas. As suas consequências estão bem à vista na degradação do investimento público, dos serviços públicos e das funções sociais do Estado.

Sendo essa a realidade, a UE defende tais restrições e condicionamentos orçamentais apresentando-os como se fossem produto acabado de leis da ciência económica incontestáveis. Nada mais falso!

Numa recente publicação do Serviço de Estudos do Parlamento Europeu (EPRS) pode ler-se, a propósito dos modelos utilizados pela UE para aferir a sustentabilidade da dívida, que «embora metodologicamente sofisticados, a fiabilidade destes modelos tem sido posta em causa»2. Isto além de ter também assinalado que “foram manifestadas preocupações quanto ao papel da Comissão Europeia, em especial quanto ao seu poder discricionário na definição de uma trajetória de referência e da Análise de Sustentabilidade da Dívida subjacente (...)»3.

Resta então saber por que motivo o Governo português aceita tudo isto sem pestanejar?

A conclusão não parece ser difícil de tirar. Não sendo solução, mas sim origem de problemas sérios para o País, essas restrições e condicionamentos orçamentais são também uma das bases em que assenta a política de direita e as suas opções de negação dos direitos sociais e laborais, de contenção de salários e pensões, de privatização de empresas e sectores estratégicos, de falta de investimento na saúde, na habitação, na educação, de falta de apoio aos sectores produtivos.

Querendo fazer essa política mas não querendo assumir a responsabilidade por ela, o Governo de turno faz o mesmo que fizeram os governos anteriores: aceita as imposições que lhe são feitas pela UE e justifica-se com elas para continuar a mesma política que tem sido feita contra os interesses dos trabalhadores, do povo e do País.

Não é de ciência económica e regras orçamentais que tratamos, é das opções de classe da política de direita e dos interesses que ela serve, seja em Portugal, seja na UE. E é pela ruptura com ela que continuamos a lutar!

 

1 Darvas, Z., L. Welslau and J. Zettelmeyer (2024) ‘The implications of the European Union’s new fiscal rules’, Policy Brief 10/2024, Bruegel

2 O modelo económico subjacente ao quadro orçamental da UE, EPRS, 2023

3 Resumo sobre as novas regras da governação económica, EPRS, 2023

1Darvas, Z., L. Welslau and J. Zettelmeyer (2024) ‘The implications of the European Union’s new fiscal rules’, Policy Brief 10/2024, Bruegel

2O modelo económico subjacente ao quadro orçamental da UE, EPRS, 2023

3Resumo sobre as novas regras da governação económica, EPRS, 2023

 



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