Garantir o acesso à IVG através do SNS

O MDM concorda com a reivindicação de prolongamento do prazo de acesso à interrupção voluntária da gravidez (IVG), mas não esquece o caminho, feito de conquistas, mas também de tentativas de retrocesso na lei trilhado até hoje.

«Esperamos responsabilidade neste processo»

«Não esquecemos que temos uma lei que muitos não desistem de fazer recuar aos velhos tempos», afirma o MDM num pronunciamento sobre a proposta de prolongamento do prazo de acesso à IVG, apresentada pelo PS e pelo BE, onde informa que «sempre» defendeu – incluindo aquando da realização dos referendos – o prazo legal de 12 semanas, que não foi aceite.

Recordou, por isso, a alteração à lei realizada pela maioria PSD-CDS, em 2015, a última aprovada na governação de Passos Coelho, que constituiu uma afronta à saúde e dignidade das mulheres, não apenas pelos obstáculos criados à realização da IVG, como à própria liberdade e autodeterminação das mulheres a decidirem se, quando e quantos filhos desejam ter. «Tratou-se de uma tentativa de claro retrocesso no acesso da mulher à IVG», acusa o movimento, frisando que «foi fruto da luta das mulheres» e de várias organizações de mulheres, como o MDM, que «foi possível criar as condições políticas para a revogação dessas alterações meses depois e já com uma nova composição parlamentar».

Preocupações
Neste sentido, o MDM manifestou «preocupação» pelo facto de se ter escolhido «um momento político caracterizado novamente por um Governo PSD-CDS e por uma maioria parlamentar de partidos da direita e da extrema-direita para reacender a discussão em torno da lei da IVG e da legítima reivindicação das mulheres em prolongar o prazo legal até às 12 semanas».

«Esperamos responsabilidade neste processo. Não aceitamos que o “debate fracturante” – que eleva alguns para a ribalta – seja feito à custa dos direitos das mulheres e exigimos uma acção política a favor da eliminação dos reais obstáculos ao acesso à IVG», que «passam pelo reforço da informação à mulher, pelo investimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) com a contratação de mais profissionais de saúde, com a valorização dos seus salários e carreiras, com o alargamento de unidades de saúde com acesso à IVG medicamentosa», reclama o movimento.

 

Mulheres confrontadas com obstáculos

O MDM tem denunciado «constrangimentos» e «obstáculos» que não derivam do prazo estipulado na lei, mas das dificuldades estruturais do SNS. «As dificuldades de articulação e disponibilização entre os diferentes níveis de cuidados do SNS, a escassez de médicos especialistas e de um número significativo de objectores de consciência, entre outros, passou a ser um problema estrutural, consequência de políticas de desinvestimento e desvalorização dos seus profissionais, da responsabilidade dos partidos que têm tido a maioria dos deputados na Assembleia da República e têm governado o País», acusa o movimento de mulheres.

«Sem a resolução destes problemas estruturais, nenhum alargamento dos prazos legais resolverá o problema essencial: garantir o direito, em igualdade, a todas as mulheres que queiram recorrer a uma IVG», conclui o MDM.

 

Dia Internacional do Aborto Seguro

Assinalando o Dia Internacional do Aborto Seguro, 28 de Setembro, o deputado do PCP no Parlamento Europeu (PE), João Oliveira, reafirmou a necessidade de continuar a «combater acções de manipulação e/ou discursos obscurantistas de forças retrógradas e batalhar pela despenalização do abordo no mundo».

«Enquanto o aborto legal e seguro não for acessível a todas as mulheres, muitas continuarão a expor-se ao risco do aborto clandestino e a usar métodos perigosos, pondo em risco a sua saúde e a sua vida», afirmou o deputado comunista, para quem «o direito da mulher à IVG gratuita, em condições de segurança e assistência, correspondendo ao seu desejo e consentimento, é uma questão de saúde pública e de dignidade para as mulheres».

Em Portugal, a lei sobre a despenalização da IVG foi aprovada em 2007. «Se em termos legais a IVG, por opção da mulher nas primeiras 10 semanas de gravidez, é de acesso gratuito e universal, na realidade este acesso continua condicionado em diversas situações, seja por inexistência dos cuidados de saúde, seja por falta de profissionais, seja por falta de vontade em assegurar a sua realização dentro dos parâmetros que a Lei determina», refere João Oliveira.

Entretanto, volvidos cerca de 16 anos desde a aprovação da lei que consagra o direito à IVG por opção da mulher, «é inadmissível que ele seja diariamente incumprido no SNS», acusa o deputado, concluindo que «a despenalização da IVG e o reconhecimento do direito à sua realização em condições de segurança foi, e é, uma das grandes conquistas da luta das mulheres, sendo parte da sua luta mais geral pela consagração na lei e na vida do direito à saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos, pela sua dignidade e pelo respeito pela sua livre opção».

 



Mais artigos de: Nacional

João Oliveira na Madeira avalia impacto dos incêndios

Na sexta-feira, a CDU organizou, com o deputado do PCP no Parlamento Europeu (PE), João Oliveira, uma jornada de contactos com as populações e uma visita às áreas atingidas pelos incêndios de Agosto na ilha da Madeira.

Conferência para «Mulheres de Abril»

O MDM realiza no sábado, 12, no Auditório JJ Laginha do ISCTE-IUL, em Lisboa, a conferência «Mulheres de Abril somos. Com igualdade temos futuro». O evento reunirá mulheres de diferentes sectores da sociedade que, a partir de experiências e lutas concretas, reflectirão sobre as transformações e os avanços nos pilares...

Vereadores do PCP questionam Carlos Moedas sobre os sem abrigo de Arroios

Na sequência das declarações do presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, na cerimónia de comemoração da Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910, os vereadores do PCP, João Ferreira e Ana Jara, solicitaram esclarecimentos relativamente à retirada de pessoas em situação de sem abrigo da zona...

Fórum Intermunicipal da Saúde quer reunião urgente com ministra

O Fórum Intermunicipal da Saúde, que une os municípios de Setúbal, Palmela e Sesimbra, decidiu pedir uma reunião com urgência à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, para debater a situação do Centro Hospitalar de Setúbal e dos cuidados de saúde primários na região. A decisão foi tomada, sexta-feira, no Salão Nobre dos...

Casa do Alentejo debate o uso e posse da terra

No âmbito das comemorações dos 50 anos da Revolução de Abril, a Casa do Alentejo, em Lisboa, promove um ciclo de debates intitulado «Alentejo hoje e amanhã. O uso e posse da terra». O primeiro, com o tema «A terra que temos», tem lugar no dia 12 de Outubro, às 15h00, e conta com a participação de Alfredo Campos (CNA),...

Moção da CDU pela concretização do Plano de Mobilidade do Vale do Tua

Por proposta da CDU, a Assembleia Municipal de Mirandela aprovou, por unanimidade, a moção «pela concretização do Plano de Mobilidade do Vale do Tua» (PMVT), a principal contrapartida pela construção da barragem de Foz Tua, que obrigou ao desmantelamento da única linha ferroviária que servia o Nordeste Transmontano. Este...

Paz e solidariedade com a Palestina

Para além da jornada nacional de solidariedade «Palestina Livre! Paz no Médio Oriente!», que decorre até ao próximo sábado (ver páginas centrais), a luta pela paz e a solidariedade continua, com outras iniciativas já marcadas: a 26 de Outubro, às 16h00, o Fórum Lisboa acolhe um Concerto pela Paz e de Solidariedade com a...