«Expressão concentrada»

Filipe Diniz

Nesta altura do ano os partidos da política de direita apresentam intenções «políticas». Convém procurar um guia de leitura para elas.

Para começar, lembrar que a política – numa formulação de Lénine – é «a expressão concentrada da economia». A questão que se coloca nos tempos que vivemos é como identificar tal «expressão» no labirinto do discurso político dos porta-vozes da classe dominante. Um discurso em que cada palavra pode significar exactamente o contrário do que finge dizer. Ouça-se o que dizem sobre o SNS (vão salvá-lo), sobre a Educação (este ano é que é), sobre a economia (vai florescer) ou sobre seja o que for. Gente visceralmente hostil aos direitos dos trabalhadores e dos povos, à liberdade, à democracia, tenta monopolizar as palavras que as designam. Pior, gente que se afirma «democrática» e até «de esquerda» dispõe-se a alinhar, em questões nacionais ou internacionais, com os mais convictos e desbocados fascistas, como agora sucede com a Venezuela.

Voltando a Lénine, de que «economia» serão tais posições «expressão concentrada»? Obviamente, a das decadentes potências imperialistas do capital monopolista «ocidental». Uma política que atrela o interesse nacional e popular a uma frota que caminha para o naufrágio.

Esta «política» provoca repugnância a muito boa gente. Mas nunca deverá aceitar-se que daí se resvale para a aversão «à política» e aos «políticos». Isso seria um grande favor para a economia de que é «expressão concentrada», e nada mais.

Porque há – e há muito que existe – outra política. Os interesses que defende são diametralmente opostos. Desempenha um nobre papel na luta de classes. Fala verdade. Diz o que quer e faz o que diz. É justo motivo de orgulho. É feita por outra gente, que vem de outras zonas da sociedade. Tem a história do seu lado.

 



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