Corticeiros em greve recusam empobrecer a trabalhar
Uma veemente mensagem de protesto e de determinação na luta por aumento digno do salário e do subsídio de refeição foi deixada por trabalhadores em greve, a 31 de Julho, frente à sede do Grupo Amorim.
A riqueza criada não está a ser distribuída com justiça
A jornada de luta de quarta-feira da semana passada foi convocada pela FEVICCOM (Federação Portuguesa dos Sindicatos da Construção, Cerâmica e Vidro) e pelos seus sindicatos com intervenção na indústria corticeira.
Com a greve de 24 horas, a concentração que reuniu cerca de três centenas de pessoas em Mozelos (Santa Maria da Feira), e as saídas ocorridas noutras unidades industriais, durante a paralisação, os trabalhadores responderam ao apelo das estruturas da CGTP-IN, fazendo ouvir a sua voz contra a «total desconsideração» das empresas e da associação patronal APCOR, na negociação anual do contrato colectivo de trabalho.
O sector apresenta elevados resultados, como o recorde de exportações do grupo predominante (Corticeira Amorim), acima de 670 milhões de euros no primeiro semestre de 2023, ou os lucros de 88,9 milhões de euros, que obteve em 2023, e os dividendos pagos em Abril, estimados em 26,6 milhões de euros, (números referidos pela federação num dos comunicados que antecederam a greve).
No entanto, a riqueza criada não está a ser distribuída com justiça. Na generalidade, os operários auferem um salário-base de 928,00 euros, que se aproxima cada vez mais do valor do salário mínimo nacional. «Empobrecem a trabalhar e enfrentam duras condições de trabalho com elevadas temperaturas e esforço físico», salientou a federação.
Perante a reivindicação de mais 72 euros, nos salários, para colocar aquele valor em mil euros, a resposta patronal, através da APCOR (onde o Grupo Amorim ocupa a presidência da direcção e outros cargos), foi de um aumento de 36 euros, em 2024 (Junho a Dezembro) acrescido de 24 euros em 2025 (Janeiro a Maio).
No dia 9 de Julho, a posição patronal nas negociações manteve-se, propondo acréscimo de um cêntimo por dia no subsídio de refeição.
No protesto em Mozelos destacou-se ainda a situação preocupante na empresa Amorim Cork Flooring, em São Paio de Oleiros. Para a concentração, junto da holding, um numeroso grupo de trabalhadores deslocou-se a pé, num «cortejo fúnebre» contra as pressões que já levaram à saída de mais de uma centena de operários. Agora, como um representante explicou à agência Lusa, os patrões preparam a alteração dos horários, para deixar de ter turnos rotativos e pagar menos pelo trabalho nocturno. Em causa estão mais de 300 euros por mês, em média por trabalhador.
Um dirigente do Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte, admitindo que seria possível chegar a um acordo salarial pelo valor do aumento do SMN (60 euros) também este ano, explicou que «a Amorim pressiona as outras empresas a não aceitarem».
Na concentração, marcaram presença e tomaram a palavra, para expressarem solidariedade e apoio à luta dos corticeiros, o Secretário-Geral da CGTP-IN, Tiago Oliveira, dirigentes da FEVICCOM, o coordenador da União dos Sindicatos de Aveiro, Adelino Nunes, dirigentes do SOCN e de outros sindicatos, bem como uma delegação do PCP, da qual fez parte Mafalda Guerreiro, do Comité Central do Partido.