Eleições em França: «vontade de mudança»
É real o risco de que venha a ser defraudada a «vontade de mudança» expressa nas urnas e que, no actual quadro de arrumação de forças no parlamento francês, «possa vir a ser assegurada a sobrevivência da política antipopular e reaccionária de Macron», considera o PCP.
«As especificidades que caracterizam a situação francesa não são reproduzíveis em realidades nacionais distintas»
Lusa
«As eleições legislativas antecipadas, realizadas a 30 de Junho e a 7 de Julho em França, ficam marcadas por um novo recuo por parte das forças políticas que têm apoiado o governo neoliberal do presidente Macron, pelo aumento dos eleitos da coligação eleitoral “Nova Frente Popular”, que alcança o primeiro lugar na segunda volta das eleições, e pelo aumento dos eleitos da extrema-direita reunida no “Reagrupamento Nacional”, não alcançando, no entanto, a maioria», lê-se numa nota de imprensa do PCP, do dia 8.
Em linha com a tendência já expressa em 2022, «os resultados das actuais eleições representam uma nova derrota para Macron, expressando uma reprovação da sua política em prol dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros, de ataque aos direitos e a liberdades democráticas, de apologia e promoção do militarismo e da guerra», considera o PCP. Mais: «Com elementos contraditórios, estas eleições reafirmam uma vontade de mudança de política por parte de uma significativa parte da população, que exige o aumento dos salários e das pensões, a diminuição da idade de reforma, a defesa e melhoria dos serviços públicos, como da saúde e educação, e melhores condições de vida, a que grandes lutas populares deram importante expressão nos últimos anos».
Para os comunistas portugueses, «constituída como instrumento de disputa eleitoral, num sistema eleitoral que visa distorcer gravemente a proporcionalidade nos resultados eleitorais, a “Nova Frente Popular” alcança um resultado que pode constituir um elemento positivo, ainda que seja necessário ter presente que esta não é isenta de contradições, incluindo pela integração de forças com grandes responsabilidades na recente evolução negativa da situação em França». No entanto, sublinha a nota, «é real o risco de que venha a ser defraudada a vontade de mudança expressa nas urnas e que, no actual quadro de arrumação de forças na Assembleia Nacional francesa, possa vir a ser assegurada a sobrevivência da política antipopular e reaccionária de Macron».
«Com a consciência de que as especificidades que caracterizam a situação francesa não são reproduzíveis em realidades nacionais distintas, é certo que em França, como noutros países, e sem desvalorização das relações de forças institucionais, será a luta dos trabalhadores e do povo francês em prol dos direitos, da igualdade e da justiça, da liberdade, da democracia e da paz, que pesará decisivamente na evolução da situação», conclui a nota.
A «Nova Frente Popular» (que inclui forças muito diversificadas, como a França Insubmissa, o Partido Socialista, Os Ecologistas ou o Partido Comunista Francês) assegura 182 deputados; a coligação «Juntos», liberais, do presidente Macron, fica-se por 168; o «Reagrupamento Nacional», de extrema-direita, 143; e os «Republicanos», de direita, 46.