Administração Local trouxe a luta para a rua

Com a manifestação nacional de trabalhadores da Administração Local, empresas públicas e municipais e empresas concessionárias de serviços públicos, anteontem, de manhã, em Lisboa, saiu à rua a luta pela valorização das profissões e por uma justa compensação pela natureza específica das funções, que muitas vezes implicam risco para a saúde e disponibilidade sem compensação.

«O que temos de fazer é vir para a rua lutar»

Milhares de trabalhadores, de todo o País, incluindo representações das regiões autónomas da Madeira e dos Açores, começaram por se concentrar no Largo do Rato, respondendo ao apelo dos sindicatos da CGTP-IN na Administração Local, o STAL e o STML.

Em manifestação, com faixas, bandeiras e cartazes, entoando palavras de ordem, desceram a Rua de São Bento, até junto da escadaria do Palácio de São Bento.

Tiago Oliveira, Secretário-Geral da CGTP-IN, enalteceu a realização desta jornada. «O que temos de fazer é vir para a rua lutar», salientou, considerando que nisto se concretiza «a segunda parte» da «semana de esclarecimento, acção e luta», promovida pela confederação desde dia 20.

O dirigente, depois de alertar para os perigos incluídos no Programa do Governo e as medidas que vão sendo aprovadas pelo Executivo PSD/CDS, sublinhou a necessidade de «vir para a rua, lutar por melhores condições de vida e de trabalho», levar «as dificuldades da vida» e o descontentamento «para os locais de trabalho, para a Assembleia da República, para aqueles que nos infernizam a vida e que têm de nos ouvir e pagar por aquilo que fazem».

 

Imediato aumento dos salários

«O que é necessário e urgente é mesmo um imediato aumento dos salários, que coloque já o salário mínimo nos mil euros, reflectindo esta subida em toda a tabela remuneratória», enfatizou Cristina Torres.

A presidente do STAL, última dirigente sindical a intervir no palco móvel, instalado com a Assembleia da República por trás, reiterou a importância do abaixo-assinado, com 25 mil subscritores, que uma delegação iria entregar, logo depois, na residência oficial do primeiro-ministro.

Com uma longa lista de profissões em que os trabalhadores estão «expostos a poeiras, gases, ruído, vibrações, temperaturas extremas, qualidade do ar desgraçada, um esforço físico e psíquico impossível de manter até aos 66 anos e sete meses de idade», reiterou as exigências que constam no abaixo-assinado, para valorizar o trabalho em tais condições.

O Suplemento de Penosidade e Insalubridade, com efeitos desde 2021, foi alcançado após uma luta de mais de 30 anos. No entanto, não inclui o factor risco e tem uma abrangência limitada.

No abaixo-assinado reclama-se um Suplemento de Insalubridade, Penosidade e Risco, a atribuir a mais trabalhadores e profissões (incluindo todo o sector empresarial), e a actualização do seu valor. Nele deve prever-se a redução do horário de trabalho, a diminuição do tempo de trabalho para aposentação (reforma) e o acréscimo dos dias de férias.

É reivindicada também a regulamentação do Suplemento de Disponibilidade e Piquete e defende-se a identificação e regulamentação das profissões de desgaste rápido neste sector.

Mas «a valorização não se resolve apenas com suplementos», lembrou Cristina Torres, que enumerou outras medidas necessárias: acabar com o SIADAP, recuperar as carreiras e o direito à progressão a cada três anos, o direito à promoção e a contagem de todo o tempo de serviço.

Reconhecimento acontece «quando o salário permite viver com dignidade e garante o direito à felicidade». Ora, «com 821,80 euros, o salário-base dos assistentes operacionais, ou com 922,47 euros, o salário-base dos assistentes técnicos, isso é impossível, aos preços que a vida custa hoje» e, «mesmo com os 1385 euros do salário-base dos técnicos superiores, é muito difícil».

 

Deve estar no centro do debate político

Nesta acção de luta integrou-se uma delegação do PCP, dirigida pelo Secretário-Geral, que reafirmou a solidariedade do Partido para com as justas reivindicações dos trabalhadores. Em declarações aos jornalistas, Paulo Raimundo assinalou que, com esta manifestação, foca-se a atenção «naquilo que é fundamental, que é a valorização das carreiras e das profissões, respeitar quem trabalha, quem põe o País a funcionar» e que merece, «acima de tudo, aumento dos salários» dos trabalhadores da Administração Local e de todos os trabalhadores.

Estas são questões que «têm de estar no centro do debate político» e, «quando tanta gente se preocupa com a chamada estabilidade política, o que é preciso garantir é a estabilidade da vida destas pessoas».

«É preciso que a política do Governo responda às necessidades da maioria e não de uma pequena minoria, que faz, dos problemas da maioria, negócio», disse ainda Paulo Raimundo.



Mais artigos de: Em Foco

«Semana» termina hoje estimulando novas lutas

Uma greve nas empresas da grande distribuição, uma manifestação em Lisboa e iniciativas públicas noutras capitais de distrito destacam-se na agenda do último dia da «semana de esclarecimento, acção e luta», que a CGTP-IN promove desde dia 20, até hoje. Os sindicatos do distrito de Lisboa...

Exigências levadas à AIMMAP

Até junto da sede da associação patronal da metalurgia e metalomecânica (AIMMAP), no Porto, manifestaram-se, no dia 19, cerca de duas centenas de delegados sindicais e outros trabalhadores de empresas do sector, recordista em exportações. O objectivo desta acção, em que participou o...

Salários nas misericórdias têm de aumentar

No dia 21, os trabalhadores das misericórdias e da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), em greve, concentraram-se à porta da sede da UMP, numa acção promovida pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS). No centro desta acção de luta...

Luta prossegue na TST, CP e Carris

Na Carris, depois de um ciclo de greves parciais que começou no dia 17 e que foi marcado por uma forte adesão, os trabalhadores da empresa municipal decidiram, em plenário realizado no dia 19, na Praça do Município de Lisboa, avançar para novas acções de luta: uma paralisação de 24 horas no...

A luta é o caminho para avançar

Durante a semana passada, três casos concretos foram prova de que a luta organizada dos trabalhadores compensa e é o caminho para a solução dos seus problemas. Na ADP Fertilizantes, informou a Fiequimetal em nota no dia 20, os trabalhadores, após realizarem greve nos dias 6 e 13 (que se estenderia até 11 de Julho),...

Protesto firme na Pizza Hut

Na quinta-feira, 20, os trabalhadores da Pizza Hut (Ibersol) concentraram-se em frente à loja de Carnaxide, numa acção convocada pelo Sindicato de Hotelaria do Sul. No centro da luta estiveram reivindicações como o aumento digno dos salários (num grupo que somou 73,70 milhões de euros de...

Respostas ou novas lutas na Silopor

Os trabalhadores da Silopor realizaram, no dia 24, um plenário à porta do Ministério das Finanças, que tutela a empresa, em liquidação desde 2001. Ao mesmo tempo, o CESP reuniu com o ministério, apresentando as exigências dos trabalhadores, e assegurando que, se não forem respondidas no prazo...