Danças de cadeiras para acentuar desigualdades
À data da redacção deste texto, véspera de cimeira de líderes em Bruxelas para decidir dos altos cargos na União Europeia (UE), não é possível ainda saber com certeza como será a distribuição de responsabilidades na dança de cadeiras que sempre ocorre na sequência das eleições para o Parlamento Europeu (PE). Os elementos conhecidos até ao momento deixam antever, salvo alguma surpresa, que os impasses de há cinco anos não se repetirão, face ao aprofundamento de um «consenso neoliberal» que abrangerá, como habitualmente, a direita e a social-democracia, nas suas variadas matizes. Falta perceber o grau de abrangência mesmo de algumas forças da extrema-direita neste compromisso. Esta convergência quanto ao fundamental não é iludida por clivagens e divergências que este conjunto de forças procurará ir alimentando entre si.
Aponta-se a continuidade de Ursula Von der Leyen como Presidente da Comissão Europeia, Roberta Metsola como Presidente do PE (ambas do grupo do Partido Popular Europeu, onde se contam os deputados de PSD e CDS no PE, e repetindo os cargos que já ocupam), sendo ainda sugeridos os nomes de António Costa para presidente do Conselho Europeu (do grupo dos Socialistas e Democratas, onde se integram os deputados do PS no PE) e Kaja Kallas para vice-presidente/alta representante da Comissão Europeia (ou seja, para «chefe» das relações exteriores da UE, que foi primeira-ministra da Estónia e é da família dos Liberais no PE, o grupo Renew, onde se integram os deputados da IL).
Confirmados ou não estes nomes, há uma coisa que podemos ter a certeza. Pouco importam as caras se os projectos que protagonizem forem contrários aos interesses dos trabalhadores, dos povos, do nosso país. No essencial, as políticas da União Europeia não vão melhorar. Pelo contrário, os elementos que decorrem deste mandato que agora termina e que estiveram em foco na campanha eleitoral para o PE apontam para o acentuar das desigualdades no quadro da União Europeia. As desigualdades entre países, as desigualdades dentro de cada país. Com o aprofundamento de políticas de concentração de poder ainda mais favoráveis às potências da UE. Ou de um ainda maior pendor de liberalização e privatização de sectores fundamentais, já em curso ou noutros como a saúde, a reboque do qual virão ainda mais ataques a direitos sociais e laborais. Ou de uma ainda maior pulsão militarista e de guerra, como o presente evidencia, que ameaçam o nosso futuro.
Razões que relevam de forma ainda mais acutilante a importância da eleição de um deputado da CDU para o Parlamento Europeu e de ter lá quem, com a firmeza necessária, rejeite este caminho, afirmando sem hesitações, o caminho alternativo que serve aos interesses do nosso país e do nosso povo!