Opinadores encartados
A análise mediática dos resultados eleitorais para o Parlamento Europeu deu-nos vários exemplos da crescente e cada vez mais omnipresente confusão entre informação e opinião no trabalho jornalístico. Se nas televisões tem sido regra a enorme e propositada confusão entre o trabalho jornalístico e responsabilidades editoriais, com o papel de comentador – não há estação que não coloque em antena jornalistas, editores ou directores de órgãos de comunicação social no papel de comentário e análise (sejam da casa ou da concorrência) –, a imprensa escrita esforça-se por não ficar atrás.
São exemplos recentes os textos com os «vencedores» e os «vencidos» publicados na imprensa nos últimos dias. Está bom de ver qual a inclinação destas avaliações, como se vê num texto recente do Expresso: acima de um parágrafo em que o resultado eleitoral serve para decretar pela enésima vez o declínio irreversível do PCP e da CDU, lemos outro em que é saudada a extraordinária capacidade de resistência de outra candidatura cuja trajectória de votação foi bem mais descendente que a da CDU. Isto num artigo que aparece de forma indistinguível de uma qualquer notícia: o problema é que, tal como sucede muitas vezes, nada daquilo é notícia, mas opinião.
Este episódio ajuda a perceber que o desfecho eleitoral já estava previamente traçado nas narrativas mediáticas, não tivesse sido constante o prenúncio do desaparecimento do PCP e da CDU do Parlamento Europeu. Quem tenha dúvidas que faça o exercício de contar os dias de campanha em que não foi dito ou escrito que a CDU se arriscava a não eleger, em que foi perguntado ao primeiro candidato se não temia tal cenário, ou variações sobre este mesmo tema. Sobrarão muito poucos. Este trabalho não se ficou pelo anunciar do desejo eleitoral por parte dos principais decisores editoriais, mas passou também pela manipulação e deturpação do conteúdo da proposta da CDU nestas eleições.
Em certo momento, João Oliveira foi acusado por um comentador de ter definido como principal proposta eleitoral a saída de Portugal da moeda única, começando o próprio candidato, daí para a frente, a ser questionado sobre a razão para esta prioridade eleitoral. O truque é refinado: o euro tornou-se tema central na expressão mediática da campanha da CDU porque foi assim falsamente definida por terceiros, nomeadamente com a insistência no tema em cada uma das entrevistas e questionamentos por parte da comunicação social. Aliás, com raríssimas excepções, as entrevistas foram todas iguais: começaram com um «querem sair do euro, não é?», acabando com «vão perder muitos votos pela vossa posição sobre a guerra, não é?».
A tudo isto somaram-se múltiplas decisões arbitrárias, seja na distribuição de jornalistas e meios de forma desigual pelas diferentes candidaturas, seja na definição da presença de candidatos em espaços de entretenimento, invariavelmente em prejuízo da CDU. Elementos que valorizam ainda mais a capacidade de ultrapassar rasteiras para garantir a eleição de um deputado que não falhará na defesa do povo, do País e da paz.