No centenário do nascimento do camarada Ilídio Esteves

Passaram, no dia 3, 100 anos sobre o nascimento de Ilídio Dias Esteves, militante e dirigente do PCP, resistente antifascista e um dos participantes da célebre fuga da Cadeia de Caxias de Dezembro de 1961.

Ilídio Esteves deixou uma vida de serviço à causa da democracia e do socialismo

Ilídio Esteves nasceu em Canelas, no concelho de Estarreja, no ano de 1924, tendo entrado, em 1953, para o partido que escolheu como seu, e com o qual decidiu lutar durante toda a sua vida a favor da liberdade, da democracia e do socialismo. Veio a falecer no dia 12 de Março de 2013.

Membro do MUD Juvenil desde a fundação desta importante estrutura unitária da luta da juventude contra o fascismo, foi preso a 18 de Março de 1953, sendo libertado no dia 28 de Agosto do mesmo ano.

É nas páginas do Boletim do MUD Juvenil que encontramos referência a este facto, podendo ler-se no título de uma notícia: «Ilídio Esteves, Manuela Lopes e Henrique Cristo já estão em liberdade!». E continua: «Nos últimos dias, foram postos em liberdade estes jovens trabalhadores que a PIDE prendera ilegalmente em Março. Enquanto presos, todos eles se comportaram honrada e valentemente, recusando-se a denunciar os seus companheiros».

Prisão e fuga de Caxias

Ilídio Esteves, que passou para o quadro de funcionários do Partido em 1954, acabaria por ser aprisionado, novamente, pelos tenebrosos grilhões do fascismo, a 6 de Fevereiro de 1961, no Forte de Caxias. Uma prisão que, nunca demovendo quem verdadeiramente luta pelo fim da exploração, não retirou a Ilídio Esteves a vontade de lutar contra o fascismo, antes pelo contrário, e que não chegou a durar um ano.

Eram cerca das 9 de horas da manhã do dia 4 de Dezembro de 1961, no momento de chegada das visitas à prisão, quando o comunista António Tereso (que ganhara a confiança do director do forte, fingindo-se de traidor, ou «rachado», como se dizia) tomou assento no lugar do condutor do carro blindado de Salazar, que arranjara, no qual arrombou o portão de ferro de Caxias e levou consigo outros sete camaradas: Domingos Abrantes, António Gervásio, Francisco Miguel, José Magro, Guilherme Carvalho, Rolando Verdial e Ilídio Esteves. Todos em fuga para Lisboa.

Depois da fuga colectiva de Peniche, em Janeiro de 1960, a fuga de Caxias contribuiu para o reforço do trabalho do Partido, trazendo de volta para a luta clandestina destacados quadros e dirigentes.

Intervenção contínua

Ilídio Esteves continuou, mesmo acabado de sair da prisão, e vivendo nas duras condições da clandestinidade, a sua actividade enquanto comunista, agitando, mobilizando e organizando os trabalhadores e o povo na luta contra o fascismo.

Durante largos anos, com a sua companheira Adelina, montou várias casas clandestinas – em Benfica, Malveira, Alenquer, Almada e Lisboa –, a partir das quais desenvolveu a sua actividade partidária.

Nesta sua intervenção, acabou por ser preso novamente, a 6 de Outubro de 1965, numa prisão que foi noticiada, a 24 desse mês, pela imprensa, que escreve como título de notícia «As investigações da P. I. D. E. sobre a agitação na área de Pêro Pinheiro».

Aqui, foi relatada a captura de diversos militantes clandestinos do PCP (entre os quais Faustina Maria Condessa, Sebastião Camilo Barradas e Manuel Mendes Colhe) por «agitação político-social».

No texto refere-se a prisão, «dias depois», de Ilídio Esteves, identificado como culpado de «actividades subversivas», preso numa «casa de “ponto de apoio”» com «dois bilhetes de identidade falsificados e que continham os nomes de: Fernando Oliveira dos Santos e Bento Joaquim Areosa, ambos com a falsa profissão de desenhador».

Um retrato, pela imprensa controlada pela ditadura, das duras privações e medidas de segurança que este comunista, como muitos outros camaradas, tiveram de passar na clandestinidade.

Ilídio Esteves acabaria por ser libertado a 13 de Outubro de 1972.

Entrega ao Partido

Considerado modesto e discreto pelos seus camaradas, Ilídio Esteves deixou ao colectivo partidário, aos trabalhadores e ao povo uma vida de serviço à causa da democracia e do socialismo, que se reflectiu nas inúmeras funções que desempenhou: membro do Comité Local de Lisboa nos anos 50 e do Comité Central desde 1965 (primeiro suplente e depois, em 1976, efectivo), integrou, ainda, após a Revolução de Abril, as Direcções das Organizações Regionais de Lisboa e do Algarve, tendo nos últimos 25 anos da sua vida desempenhado tarefas em organismos junto da direcção central do Partido.

Ilídio Esteves, um combatente, viverá para sempre – como viveu até este centenário do seu nascimento – nas mentes e nos corações de todos os que, como ele, lutam por um mundo melhor, de progresso e de plena e verdadeira liberdade.

 



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