Jornada na Administração Pública exigiu bem alto outro caminho

Os trabalhadores da Administração Pública, a Frente Comum e os sindicatos mostraram, dia 17, que, após duas décadas a empobrecer, não vão baixar os braços nem esperar por aquilo que possa vir do Governo.

O aumento intercalar dos salários atenuará o ciclo de perdas sucessivas

«De Norte a Sul, há trabalhadores em greve, há serviços encerrados ou com fortes perturbações», resumiu Sebastião Santana, quando interveio perante milhares de pessoas, em frente ao Ministério das Finanças, na sexta-feira à tarde. O coordenador da Frente Comum de Sindicatos afirmou que «fomos milhares, ao longo do dia, em luta por todo o País, pelos nossos direitos e pelo direito da população a serviços públicos de qualidade», e considerou que «esta jornada nacional de luta está a ser um rotundo sucesso e representa uma pedrada no charco naquilo que o Governo nos quer impor».

Os motivos da jornada foram transportados de todo o País para Lisboa, por milhares de trabalhadores, que começaram por se reunir na Praça da Figueira.

Aqui esteve, para uma saudação solidária, o Secretário-Geral do PCP. Em declarações aos jornalistas, Paulo Raimundo sublinhou que «estes trabalhadores estão a lutar, justamente, pelos seus salários, pelas suas carreiras, pelo respeito que merecem, mas, ao fazê-lo, estão a lutar também pelos serviços públicos». Lembrou que, na campanha eleitoral, «há pouco mais de um mês e meio, houve compromissos que foram assumidos».

Em palavras de ordem, cartazes, faixas, pancartas e camisolas, os trabalhadores levaram até junto do Ministério das Finanças os seus justos protestos e exigências.

Com megafones ou carros de som, a darem o mote, e vozes soltas bem unidas, ouviu-se que «É preciso e urgente uma política diferente», «Serviços públicos sim, privatização não», «Aumento salarial é fundamental», «A luta continua nos serviços e na rua», «Só não há dinheiro se o défice estiver primeiro», «Emprego sim, precariedade não», «Negociação sim, imposição não», «Contenção salarial só interessa ao capital».

Do palco, enquanto os manifestantes iam chegando, a mensagem foi traduzida em poesia, com a força das quadras de António Aleixo, e em músicas de resistência, com João Queirós e Manuel Rocha.

Para as primeiras intervenções, foi dada a palavra a Lima Coelho, da Associação Nacional de Sargentos (que falou também em nome da Associação de Praças e da Associação de Oficiais das Forças Armadas), e a Paulo Santos, da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia. Ambos, exprimindo solidariedade com a jornada de luta, declararam tratar-se de objectivos comuns.

Foi lida uma mensagem de solidariedade do Secretário-Geral da CGTP-IN, Tiago Oliveira.

Não é cedo!
Sebastião Santana explicou que «não é cedo para lutar», ao fim de 44 dias desde a posse do Governo PSD/CDS. «Para ver o que aí vem, não é preciso ser bruxo», ironizou o coordenador da Frente Comum, apelando a que se observe «o que o Governo ofereceu ao grande capital» e se compare isso «com as respostas que não deu aos problemas de quem trabalha». «Continuam a ser sempre os mesmos a empobrecer, enquanto os ricos enriquecem mais ainda», frisou, citando o exemplo dos bancos, com «lucros milionários, anunciados hoje mesmo, de 15 milhões de euros diários, sem que o Governo lhes cobre os devidos impostos».

Por outro lado, «o Programa do Governo não deixa apenas a porta aberta ao sector privado, em áreas como a Educação, a Saúde e a Segurança Social». Ele «escancara a porta e arranca as aduelas», sacrificando os interesses da população ao lucro dos grandes grupos.

Se «é com isto que estamos confrontados», «não é este o rumo de que o País precisa» e «é contra este caminho que aqui estamos hoje».

O Governo foi também criticado porque «insiste em nada dizer sobre as propostas da Frente Comum, a maior e mais representativa organização de trabalhadores da Administração Pública».

«Sucessivos governos impuseram aos trabalhadores da Administração Pública duas décadas a empobrecer, carreiras desvalorizadas há demasiado tempo, um sistema de avaliação que não faz mais do que limitar salários», enquanto «a precariedade teima em não acabar, os meios para trabalhar são-nos retirados».

A Frente Comum persiste nas suas propostas e exige soluções. Destas reivindicações, o coordenador destacou: um aumento intercalar dos salários, tendo como base negocial para este ano 150 euros, no mínimo, com 15 por cento; mil euros de salário mínimo em 2024; a revogação do SIADAP; a valorização de todas as carreiras; o fim da precariedade na Administração Pública; serviços públicos de qualidade e o reforço das funções sociais do Estado.

Para avançar neste necessário rumo, Sebastião Santana sugeriu que «taxem o capital, deixem de beneficiar os grandes grupos económicos, olhem para os 19 mil milhões que o Orçamento do Estado reserva para os grupos privados, através da rubrica de aquisição de serviços».

 



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