Milhares exigem em Lisboa paz no Médio Oriente e a Palestina livre e independente

Pelo fim da agressão genocida de Israel contra o povo palestiniano, milhares de pessoas manifestaram-se, sábado,6, em Lisboa, exigindo um cessar-fogo permanente e o livre acesso da ajuda humanitária a Gaza.

«Paz sim, guerra não»

«A política sionista de Israel é uma máquina de guerra impiedosa, mas os EUA também o são. Não há região no planeta onde isso tenha sido mais visível nas últimas décadas do que no martirizado Médio Oriente e zonas envolventes, do Iraque ao Afeganistão, da Líbia à Síria, do Iémen ao Líbano». Palavras que, no sábado, ecoaram, bem alto, frente à Embaixada de Israel em Lisboa, no arranque da Manifestação «Pela paz na Palestina», que partiu da rua António Eanes, 16, um checkpoint[que nos remete paraimagens cruéis e aterradoras]no coração da capital portuguesa em direcção à Assembleia da República (AR).

Na acção – promovida pelo CPPC, CGTP-IN, MPPM e Projecto Ruído – participaram milhares de pessoas, de diferentes idades, nacionalidades e culturas, com uma reivindicação comum: «Paz no Médio Oriente, Palestina independente!», mensagem que abria o desfile.«Israel é culpado por um povo massacrado», «EUA a armar, Israel a bombardear», «Fim à ocupação, queremos libertação», foram outras palavras de ordem entoadas pelos manifestantes. À frente seguia uma carrinha onde se lia «Palestina vencerá!», decorada com pombas brancas, símbolo da paz. Outros elementos destacavam-se, como o Keffiyeh, lenço tradicional palestiniano, que representa a luta e a esperança daquele povo, e a bandeira da Palestina, formada por três faixas horizontais de cor negra, branca e verde, unidas entre si por um triângulo vermelho na borda mais perto da haste – as cores representam o luto pelos mártires do povo, a pureza dos seus habitantes, a fertilidade do país e o sangue derramado pelo povo para defender a pátria, respectivamente.

Entre as inúmeras faixas das organizações promotoras, que diziam«Não à guerra e ao massacre» ou «Palestina, pátria livre e soberana», destacava-se a mensagem da Juventude Comunista Portuguesa: «Reconhecer os direitos nacionais da Palestina». Presentes estiveram também os «Professores pela paz e contra a guerra», a Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais, o Movimento Democrático de Mulheres, que clamava pelo «Fim ao genocídio», a União de Resistentes Antifascistas Portugueses, a Associação Iúri Gagárin, a Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos – MURPI e a Plataforma Unitária de Solidariedade com a Palestina.

Passaram por uma delegação do PCP, composta por Paulo Raimundo, Secretário-Geral, Ângelo Alves e Patrícia Machado, da Comissão Política, Bruno Dias, do Comité Central, e João Pimenta Lopes, deputado no Parlamento Europeu.

Paulo Raimundo considerou aquela acção de solidariedade – entre as milhares já realizadas em Portugal e no mundo – indispensável, quando se assinalam seis meses de um «massacre que está em curso» contra o povo palestiniano, que «é preciso travar» e que já provocou mais de 33 mil mortos e 75 mil feridos, na sua maioria crianças e mulheres. O dirigente comunista instou ainda o Governo que agora tomou posse a reconhecer o Estado da Palestina, nas fronteiras anteriores a 1967 e com capital em Jerusalém Oriental, conforme determinam as resoluções adoptadas pelas Nações Unidas. O Executivo PSD/CDS-PP «vai continuar a apoiar aqueles que estão a provocar este genocídio ou pôr-se do lado do povo palestiniano e forçar o fim deste massacre?» – interrogou Paulo Raimundo.

No final do percurso, Inês Caeiro, do Projecto Ruído, recordou que no passado 26 de Março foram novamente entregues projectos de resolução na AR que recomendam ao Governo que reconheça o Estado da Palestina, iniciativa que foi tomada pela primeira vez pelo Grupo Parlamentar do PCP a 14 de Setembro de 2011.

Solidariedade permanente
No final, ficou o apelo à participação no desfile dos 50 anos de Abril, no dia 25, em Lisboa, entre o Marquês de Pombal e o Rossio, às 15h00, para gritar bem alto «O povo unido jamais será vencido».

Amanhã, 12, realiza-se um acto público em Viana do Castelo, na Praça da República, às 18h00. Entretanto, no passado dia 3 teve lugar uma concentração noFunchal, junto às Portas da Cidade, com largas dezenas de participantes. Outras iniciativas ocorreram no domingo, 7, em Lisboa, durante uma marcha da Praça do Município ao Largo do Intendente, e na terça-feira, 9, em Gondomar, na entrada do Parque Urbano.

 

Activista alerta para catástrofe em Gaza

Junto ao Parlamento, Dima Mohammed, investigadora e activista palestiniana, informou que na Faixa de Gaza cerca de 80 por cento das pessoas sobrevivem «sem as mínimas condições», sendo aquela a «catástrofe mundial de fome mais grave das últimas décadas».

«O número de mortes devido à fome e à doença pode, em breve, ultrapassar o número de mortes provocados por bombas e balas», elucidou, condenando a «arrogância e impunidade» do Estado de Israel.

Entretanto, para além da «solidariedade popular internacional» com a Palestina, existem outros sinais de esperança relatadospela palestiniana: a África do Sul apresentou uma queixa no Tribunal Penal Internacional (TPI) contra Israel; o Chile e o México solicitaram ao TPI que investigasse os crimes cometidos por aquele país; a Elbit Systems, empresa de armamento israelita, foi encerrada no Reino Unido; em todo o mundo, trabalhadores portuários recusaram transportar armas israelitas; o médico Ghassan Abu-Sittah foi eleito reitor da Universidade de Glasgow.

«A solidariedade internacional com a Palestina e com a luta do povo palestiniano cresce todos os dias» e «as acções para pôr fim à chacina e para responsabilizar os perpetradores são cada dia mais resolutas», disse Dima Mohammed, que, citando Ernesto Che Guevara, manifestou esperança num «amor reforçado por uma grande dose de humanidade, de sentido de justiça e de verdade».

Crimes e atrocidades
Antes, Tiago Oliveira, Secretário-Geral da CGTP-IN, citou dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que revelam «a dimensão da destruição causada por Israel no trabalho»: meio milhão de empregos destruídos na Palestina, 200 mil só na Faixa de Gaza; projectam-se níveis de desemprego que rondam os 60 por cento no primeiro trimestre de 2024; registou-se uma perda de rendimentos de quase 26 milhões de dólares. «Multiplicam-se os casos de discriminação e de violência sobre os palestinianos que trabalham em Israel e agravam-se as humilhações nos postos de controlo», continuou, assegurando: «O povo e os trabalhadores palestinianos contaram, contam e contarão, sempre, com a solidariedade dos trabalhadores portugueses e da CGTP-IN».

Desumana crueldade
Rui Garcia, vice-presidente do CPPC, reportou centenas de jornalistas e trabalhadores humanitários assassinados, bem como de «pessoas metralhadas enquanto aguardavam numa fila para receber a parca ajuda alimentar que está disponível». «Israel dá mostras de uma desumana crueldade e impede a entrada na Faixa de Gaza de alimentos, água, medicamentos, combustíveis e todo o tipo de bens de primeira necessidade, provocando uma catástrofe humanitária que nos é difícil até de descrever», salientou, considerando «infames» as práticas do Estado de Israel, dos EUA e «seus vassalos» da União Europeia. «A impunidade com que Israel, desde a sua criação, viola e afronta o Direito Internacional e as inúmeras resoluções da ONU» só «é possível pela cobertura política e pelo apoio militar e financeiro concedidos pelos EUA», acrescentou Rui Garcia.

 

Não haverá paz enquanto o povo palestiniano não for livre!

Além do «fim do massacre» na Palestina, conforme a resolução aprovada no Conselho de Segurança da ONU, Carlos Almeida, vice-presidente do Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM), avançou com outras reivindicações necessárias no imediato, como a retirada incondicional do exército de ocupação israelita, o levantamento do bloqueio ilegal e criminoso sobre a Faixa e a mobilização internacional de toda a ajuda humanitária de emergência, «que só pode ser coordenada, dirigida, executada por ninguém mais que não sejam as agências das Nações Unidas» (ONU). É, por isso, «imperioso» reforçar o financiamento e os recursos disponibilizados para a operação ONRWA, a agência da ONU para os refugiados palestinianos.

Segundo o dirigente do MPPM, «urgente» é, também, a libertação dos reféns que estão em Gaza, «detidos pelas forças de resistência palestina e sujeitos à fúria dos bombardeamentos massivos e indiscriminados de Israel», e dos milhares que «estão encarcerados nas prisões do sionismo, privados de alimentação condigna e assistência médica, sujeitos a torturas, sevícias e insultos».

Momento exige clareza
Carlos Almeida questionou ainda se existe entre Portugal e Israel «alguma forma de cooperação militar ou fornecimento de material ou equipamento que possa ser utilizado para tal fim» ou se «foi o território português usado para o trânsito de equipamento militar ou susceptível de ser usado com esse propósito destinado a Israel». «Quem, por acção ou omissão, faltar ao seu dever de solidariedade com o povo palestino, carregará para sempre a culpa de ter arrastado Portugal para o lugar errado da história», salientou.

 



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