O Iowa é um aviso
A vitória de Trump nas primárias do Partido Republicano no Iowa, esta semana, não foi uma surpresa. Trata-se de um dos Estados em que as seitas evangélicas empurram o eleitorado mais para a direita. O que deixou a América boquiaberta foi a escala: em relação a 2016, Trump duplica a base de apoio, arranca 51 por cento das preferências dos republicanos e consegue uma margem de 30 pontos de vantagem, a maior de sempre, em relação ao segundo lugar do governador da Florida, Ron de Santis. Trump vence em 98 dos 99 condados e perde por um único voto em Johnson para a «moderada» Nikki Haley que não foi, contudo, além dos 19,1 por cento, enquanto Vivek Ramaswamy, em quarto lugar com 7 por cento, apressou-se a sair da corrida, passando-se de malas e bagagens para a campanha de Trump, reforçando-a.
A vitória avassaladora de Trump sobre os rivais republicanos não demonstra apenas o seu domínio sobre o partido, revela o divórcio entre o Partido Republicano e as instituições da democracia burguesa. Nenhum processo judicial parece atingir a popularidade de Trump, pelo contrário: quantas mais e mais graves são as acusações, maior é o apoio do ex-presidente. Trump arrisca a prisão, está judicialmente impedido de se candidatar em dois Estados e soma mais de uma centena de acusações criminais que incluem traição, fraude fiscal, roubo de documentos classificados, insurreição e fraude eleitoral. Mas também é o candidato que menos se assemelha a Biden. Na realidade, sondagens à boca da urna revelaram que a maioria dos eleitores republicanos do Iowa continuariam a votar Trump mesmo que ele fosse condenado e preso.
Biden é já o segundo presidente mais impopular de sempre, logo atrás de George W. Bush. Enquanto milhões de estado-unidenses se vêem privados de comida, aquecimento, saúde e educação, Biden atira milhares de milhões para a guerra na Ucrânia, para o genocídio na Palestina e para a agressão ao Iémen.
Se Trump promete perseguir comunistas, minorias e imigrantes, Biden não se revelou mais democrático: proibiu greves; permitiu a destruição do direito federal à interrupção voluntária da gravidez; não deu qualquer passo no sentido de aumentar salários; não tocou na legislação laboral, muito menos nos privilégios do capital.
A falta de alternativa quer dizer que a classe trabalhadora escolherá entre a continuidade no empobrecimento ou a aventura do fascismo. O nome de Trump pode até ser retirado dos boletins de voto, mas as forças sociais que o desejam não.