O Iowa é um aviso

António Santos

A vi­tória de Trump nas pri­má­rias do Par­tido Re­pu­bli­cano no Iowa, esta se­mana, não foi uma sur­presa. Trata-se de um dos Es­tados em que as seitas evan­gé­licas em­purram o elei­to­rado mais para a di­reita. O que deixou a Amé­rica bo­qui­a­berta foi a es­cala: em re­lação a 2016, Trump du­plica a base de apoio, ar­ranca 51 por cento das pre­fe­rên­cias dos re­pu­bli­canos e con­segue uma margem de 30 pontos de van­tagem, a maior de sempre, em re­lação ao se­gundo lugar do go­ver­nador da Flo­rida, Ron de Santis. Trump vence em 98 dos 99 con­dados e perde por um único voto em Johnson para a «mo­de­rada» Nikki Haley que não foi, con­tudo, além dos 19,1 por cento, en­quanto Vivek Ra­maswamy, em quarto lugar com 7 por cento, apressou-se a sair da cor­rida, pas­sando-se de malas e ba­ga­gens para a cam­panha de Trump, re­for­çando-a.

A vi­tória avas­sa­la­dora de Trump sobre os ri­vais re­pu­bli­canos não de­monstra apenas o seu do­mínio sobre o par­tido, re­vela o di­vórcio entre o Par­tido Re­pu­bli­cano e as ins­ti­tui­ções da de­mo­cracia bur­guesa. Ne­nhum pro­cesso ju­di­cial pa­rece atingir a po­pu­la­ri­dade de Trump, pelo con­trário: quantas mais e mais graves são as acu­sa­ções, maior é o apoio do ex-pre­si­dente. Trump ar­risca a prisão, está ju­di­ci­al­mente im­pe­dido de se can­di­datar em dois Es­tados e soma mais de uma cen­tena de acu­sa­ções cri­mi­nais que in­cluem traição, fraude fiscal, roubo de do­cu­mentos clas­si­fi­cados, in­sur­reição e fraude elei­toral. Mas também é o can­di­dato que menos se as­se­melha a Biden. Na re­a­li­dade, son­da­gens à boca da urna re­ve­laram que a mai­oria dos elei­tores re­pu­bli­canos do Iowa con­ti­nu­a­riam a votar Trump mesmo que ele fosse con­de­nado e preso.

Biden é já o se­gundo pre­si­dente mais im­po­pular de sempre, logo atrás de Ge­orge W. Bush. En­quanto mi­lhões de es­tado-uni­denses se vêem pri­vados de co­mida, aque­ci­mento, saúde e edu­cação, Biden atira mi­lhares de mi­lhões para a guerra na Ucrânia, para o ge­no­cídio na Pa­les­tina e para a agressão ao Iémen.

Se Trump pro­mete per­se­guir co­mu­nistas, mi­no­rias e imi­grantes, Biden não se re­velou mais de­mo­crá­tico: proibiu greves; per­mitiu a des­truição do di­reito fe­deral à in­ter­rupção vo­lun­tária da gra­videz; não deu qual­quer passo no sen­tido de au­mentar sa­lá­rios; não tocou na le­gis­lação la­boral, muito menos nos pri­vi­lé­gios do ca­pital.

A falta de al­ter­na­tiva quer dizer que a classe tra­ba­lha­dora es­co­lherá entre a con­ti­nui­dade no em­po­bre­ci­mento ou a aven­tura do fas­cismo. O nome de Trump pode até ser re­ti­rado dos bo­le­tins de voto, mas as forças so­ciais que o de­sejam não.

 



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