Os noticiários e o negócio da doença

Vasco Cardoso

Os grupos privados de saúde esfregam as mãos com o «espectáculo» que diariamente percorre as televisões num carrossel de serviços encerrados e longas horas de espera nas urgências do SNS. É uma espécie de publicidade gratuita que lhes é fornecida em cada noticiário que explora o drama de quem desespera por uma resposta. Publicidade gratuita mas também enganosa, como enganosas são aliás outras das notícias aí servidas, mas adiante.

É claro que «para a mentira ser segura», como dizia Aleixo, tem de conter «qualquer coisa de verdade». E a verdade é que a falta de capacidade de resposta do SNS às necessidades da população tem vindo a agravar-se. Há insatisfação e cada vez mais insegurança. E isso acontece porque não só faltam médicos, enfermeiros e outros profissionais ao SNS, como estes estão a ser «sacados» pelo sector privado, seja em áreas de especialidade – veja-se a saúde materno-infantil – seja em termos gerais. E fazem-no, precisamente a partir dos recursos públicos que lhes vão parar aos bolsos criando uma situação perversa: é com os recursos públicos desviados do SNS (mais de metade do seu orçamento) que o capital vai ganhando cada vez mais terreno no negócio da doença.

Acresce a isto a consciente recusa do Governo PS em valorizar os salários e a dedicação exclusiva destes profissionais, como tem vindo a propor o PCP. Não há como dizer de outra forma: o PS e o seu Governo foram e estão a ser cúmplices desta estratégia e fazem o jogo da direita na promoção do lucrativo negócio da doença.

Mas a publicidade enganosa de que se falava atrás está na ilusão de que a solução está no privado. Nunca explicando esta aparente contradição: à medida que se multiplicam os hospitais e clínicas privadas, o direito à saúde recua. É que ao contrário do SNS, que tem de tratar de tudo e de todos, daí o seu carácter universal, o sector privado só trata o que dá lucro e só cuida de quem pode pagar.

O SNS, que permitiu avanços notáveis ao povo português que o fascismo negou durante décadas, está seriamente ameaçado. Destruir o SNS para encher os bolsos de uns poucos capitalistas é imoral. É um atentado aos direitos humanos que precisa de ser travado. E é um combate que vai continuar a exigir muitas das nossas forças.




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