O que está em jogo?

Vasco Cardoso

A operação para centrar o debate eleitoral não em torno dos principais problemas que atingem o País mas nas possíveis soluções e arranjos governativos que podem resultar das eleições de 10 de Março está em marcha. É isso que mostram estes primeiros dias após a demissão do primeiro-ministro. Tal operação interessa a todos os partidos da política de direita. É nesse terreno que quer o PS, quer PSD, CDS, Chega e IL, estão confortáveis e onde melhor podem dissimular a sua objectiva convergência na defesa dos interesses do grande capital.

Centrar o debate na ameaça do Chega (que também serve o Chega), ou numa irrepetível «geringonça», ou nos casos judiciais que envolvem o Governo, ou nas condições de governabilidade, ou nas eleições para primeiro-ministro (que se sabe não existirem), ou num dito confronto entre esquerda e direita é o que melhor serve aqueles que, como o PS, querem, com as suas palavras, esconder os seus actos (e intenções). E serve ainda para desvalorizar o PCP e a CDU (transformados em apêndices), precisamente aqueles que transportam consigo não apenas uma política alternativa, mas a seriedade e a determinação indispensáveis para a concretizar.

Na verdade, esta é uma operação que visa assegurar que, independentemente do resultado das eleições, a política de direita – tal como o Orçamento do Estado para 2024 – será salva. Uma operação que procura dissimular a convergência do PS com os partidos à sua direita, com a política de baixos salários, de privatizações, de degradação dos serviços públicos, de submissão à UE e ao euro, de favorecimento dos lucros dos grupos económicos e das multinacionais.

Que propostas? Que soluções para o País? Qual o rumo que pretendemos dar à nossa vida colectiva? Afirmar os valores de Abril ou andar para trás como alguns pretendem?

Mais do que mudar de protagonistas, mais do que mudar de governo, a questão central que está colocada ao povo português é a necessidade, e já agora, a possibilidade, de uma mudança de política. Uma mudança que tem como condição fundamental, já testada em vários momentos, o reforço do PCP e da CDU.

Mais votos e mais deputados da CDU contarão sempre para afirmar direitos, travar projectos reaccionários, fazer o País avançar. Um objectivo que, por muito que lhes doa, está ao nosso alcance.




Mais artigos de: Opinião

Reforçar a CDU: porquê e para quê

Face aos desenvolvimentos da situação político-institucional, após a demissão do primeiro-ministro, o Presidente da República anunciou a dissolução da Assembleia da República e a marcação de eleições legislativas para 10 de Março – que passarão assim a ser, no próximo ano, as primeiras de um...

Palestina, a luta tem de continuar

Ao momento da redacção deste artigo as notícias sobre a guerra na Palestina estão centradas na possibilidade de um acordo de troca de prisioneiros palestinianos e israelitas, que seria acompanhado de uma pausa de quatro ou cinco dias nos combates. A concretizar-se, o acordo em que o Qatar e o Egipto parecem ter tido um...

Mantras

Mantra: (…) Palavra ou expressão que se repete muitas vezes in Dicionário Priberan da Língua Portuguesa   São variadas e não poucas vezes sofisticadas as técnicas de manipulação da informação. Da mera ocultação de factos e acontecimentos relevantes ao encharcar do espaço mediático com «especialistas» cuidadosamente...

Os mercados

Os mercados animaram-se com a vitória de Javier Milei. Assim rezam as crónicas destes dias seguintes às eleições na Argentina. A eleição para Presidente da República de uma das maiores economias da região de alguém apresentado como um lunático que, apenas como exemplo, se apresentava nos comícios de motosserra na mão...

Ameaças à democracia

Não é acidental que os dois países com o mais bárbaro historial recente de agressão aos povos do mundo (os EUA e o Estado sionista) se assumam como dotados de uma missão divina. Ainda Israel não fundara a sua legitimação política num texto religioso já os EUA se imaginavam incumbidos por um poder superior para dirigir o...