Milhares manifestam-se em Lisboa pela paz e a Palestina independente
Uma extraordinária demonstração de solidariedade para com o povo da Palestina e as suas aspirações, pelo fim do massacre sionista na Faixa de Gaza e pela paz no Médio Oriente – foi isto que aconteceu no passado domingo à tarde, em Lisboa.
Ficou marcada nova acção de luta, na Alameda, sexta-feira, 3, às 18 horas
Os prognósticos climatéricos confirmaram-se. Mais de metade do percurso da manifestação e todo o período das intervenções políticas, na Praça do Município, decorreu debaixo de intensa chuva. Todavia, milhares fizeram boa cara ao mau tempo.
De resto, antes da partida, no Martim Moniz, a moldura humana que se concentrava era já substancial, apesar das nuvens que cerravam, escuras como a fuligem das bombas que caem indiscriminadamente sobre a Faixa de Gaza, cinzentas como a poeira dos destroços, que se cola à pele das vítimas de rostos atónitos com a barbárie.
Em declarações à comunicação social, por volta das 17h00, Paulo Raimundo, Secretário-geral do PCP, destacou precisamente o carácter massivo do protesto. Sublinhou, além do mais, a «grande resposta contra a hipocrisia e o cinismo» face ao «massacre que é preciso travar», o isolamento de «Israel e dos que os acompanham», a urgência da «diplomacia» e de «cumprir as resoluções da ONU».
Força imparável
Antes, pelas 15h45, os panos alinharam-se para o arranque da marcha. Na frente, inauguraram o desfile representantes das organizações promotoras – CPPC, MPPM, CGTP-IN, às quais se juntaram muitas outras. Transportavam uma faixa que dizia «Paz no Médio Oriente. Palestina Independente». Milhares seguiram atrás, gritando palavras de ordem contra a guerra, lembrando que «Gaza não é prisão! Massacre e cerco não!» ou apelando ao fim da violência e da ocupação. Panos, cartazes impressos, cartolinas e pedaços de cartão tingidos de espontaneidade grafavam verdades como punhos. Expressões do repúdio popular face à força bruta que tenta liquidar o direito dos palestinianos à sua pátria. Uma revolta que em Lisboa teve voz em várias línguas.
A singularidade do momento, a amplitude crescente da luta de solidariedade para com o povo palestiniano e as suas justas reivindicações, confirmou-as o repórter. A cabeça da manifestação tinha partido há meia hora, mas no Martim Moniz e um pouco mais adiante, mais e mais pessoas se juntavam ao corpo compacto do protesto. Muitos imigrantes, determinados em participar colectivamente numa acção que reiterou que não há origem diversa que diferencie humanos na sua condição de iguais e a importância de praticar a empatia para com as legítimas e comuns aspirações de classe.
Agora é o tempo
A responsabilidade de combater pelas razões do povo palestino, foi enfatizada por Carlos Almeida. Da tribuna instalada na Praça do Município, lembrou que chegará o dia em que os nossos filhos e netos «ouvirão falar de um tempo em que foi possível que uma população de mais de 2 milhões de pessoas, (...), privada de água, alimentos e medicamentos, isolada do mundo, fosse bombardeada». Daí «a urgência da solidariedade», defendeu o membro do MPPM.
Já Ilda Figueiredo, em nome do CPPC, exigiu o fim do «massacre de Israel», em curso «ao arrepio da legislação internacional». E apelou a que «o mundo se erga para evitar o genocídio», a que se «procedam às necessárias negociações de Paz» e a que se reconheça o «Estado da Palestina, com capital em Jerusalém», «o direito de retorno dos palestinianos ao território» e a «libertação dos mais de cinco mil encarcerados por Israel».
«Não é de agora e não é só em Gaza. A humilhação e descriminação de que são alvo os trabalhadores palestinianos (...) são o dia-a-dia», salientou, por seu lado, Isabel Camarinha, Secretária-Geral da CGTP-IN, que afirmou, igualmente, que «daqui exigimos o cessar-fogo imediato e o cumprimento das resoluções da ONU».
Da tribuna, chamados pelo actor Fernando Jorge, dirigiram-se ainda aos presentes um membro do movimento Vida Justa, para quem são comuns a luta pela sobrevivência em Portugal e na Palestina, e uma representante da comunidade palestiniana em Portugal, Dima Mohamed, que contestou «a impunidade» e o branqueamento da «máquina de guerra sionista».
Na iniciativa em que não faltaram a poesia, lida pelos actores Rita Tomé e Pedro Gamboa, e a música, pela voz e a guitarra de Sebastião Antunes, foi ainda aprovada uma moção. Foram, além do mais, saudadas as iniciativas que ocorreram por estes dias no Porto, em Braga, em Coimbra, em Évora, ou estão agendadas para Portalegre, Viana do Castelo, Viseu, Setúbal, Baixa da Banheira, Almada, Montijo ou Santarém. E ficou marcada nova acção de luta para Lisboa, na Alameda Afonso Henriques, na próxima sexta-feira, dia 3 de Novembro, às 18 horas. Oportunidade para reafirmar que «por cada bomba criminosa caída em Gaza, nascerá em Portugal uma bandeira palestina de resistência e de luta pela paz e a justiça», concluiu-se.