MURPI culmina comemorações do Dia do Idoso com forte jornada de luta
Sexta-feira, em Lisboa e no Porto, milhares de reformados, pensionistas e idosos exigiram a resposta aos seus problemas mais sentidos, entre os quais um aumento de 7,5 por cento para todas as pensões, num mínimo de 70 euros. O PCP considerou aquela «uma luta justíssima».
Dois milhões e meio de portugueses têm mais de 65 anos
As manifestações, em Lisboa, entre a Praça do Saldanha e o Campo Pequeno, e no Porto, entre a Praça da Batalha e a Rua de Santa Catarinha, encerraram as comemorações do Dia Internacional do Idoso, numa clara afirmação da alegria de viver e lutar por mais apoios às associações de reformados, pensionistas e idosos e aos seus grupos culturais, por melhores pensões, mais saúde e fruição saudável dos tempos livres.
No final destas acções foi aprovado, por unanimidade, um documento intitulado «O sonho não tem idade. Envelhecer com direitos e dignidade!», onde se afirma que «os preços de bens, serviços essenciais e as despesas com a saúde são incomportáveis para os baixos valores» das reformas e pensões.
Nestas acções, os reformados, pensionistas e idosos – com diversas idades, oriundos de diversas profissões, que vivem em diferentes zonas do País – afirmaram que não aceitam esta realidade, por negar o direito a envelhecer com qualidade de vida, com tranquilidade, alegria e segurança. Porque «é preciso que as políticas públicas passem das palavras aos actos», na resolução defende-se que devem ser asseguradas «melhores reformas e pensões no âmbito do Sistema Público de Segurança Social» e «condições que garantam mais anos de reforma vividos com saúde, o que exige reforçar a rede de equipamentos e serviços de apoio à terceira idade que permita suprir as suas necessidades, de modo a garantir o direito a envelhecer nas suas casas, a par da criação de uma rede pública de lares de qualidade».
Reclamações justas e necessárias
Foi por isso manifestado o apoio às medidas do Caderno Reivindicativo do MURPI, já entregue na Assembleia da República, para que sejam contempladas no Orçamento do Estado para 2024 e na acção do Governo. Em Lisboa, uma das propostas avançadas por Isabel Gomes, presidente da direcção da Confederação, para repor o poder de compra de todas as pensões, foi a de um aumento de 7,5 por cento, num mínimo de 70 euros. «O aumento de um valor mínimo de 70 euros na pensão justifica-se pelo facto de os pensionistas com pensões mais baixas terem sido afectados pelos aumentos verificados em bens essenciais, como os alimentos, a energia e os medicamentos. Para os restantes propõe-se um aumento de 7,5 por cento, tendo em conta uma inflação de 5,5 por cento em 2023 e a recuperação do poder de compra, que não foi reposto em 2023, que é de cerca de dois por cento», explicou a dirigente.
Outro «grave flagelo» é, segundo Isabel Gomes, «o dos elevados preços dos bens e serviços essenciais», sendo, por isso, preciso «criar um cabaz com preços fixos de bens, produtos e serviços essenciais». Além da urgência de «investir num melhor Serviço Nacional de Saúde», a dirigente referiu ser necessário «pôr fim aos lares ilegais, às listas de espera, às mensalidades incomportáveis», ampliando «a rede de equipamentos e serviços de apoio à terceira idade, que permitam responder às necessidades dos idosos, para os que queiram e possam permanecer nas suas casas».
A este respeito, Arlindo Costa, da Inter-Reformados/CGTP-IN, lembrou que está a circular, em todo o País, uma petição [promovida pelo MURPI e Inter-Reformados] para criação de uma Rede Pública de Lares. Considerou ainda ser «urgente e necessário» repor a idade de acesso à reforma nos 65 anos, salvaguardando regimes especiais consagrados com condições de acesso mais favoráveis e a reforma voluntária aos 40 ou mais anos de carreira contributiva, independentemente da idade, sem penalizações, e a abolição do factor de sustentabilidade.
Jornada de afirmação e de luta
Casimiro Menezes, presidente da Assembleia Geral da Confederação, saudou todos aqueles que participaram naquela «jornada de afirmação e de luta» e informou que durante o mês de Outubro as «associações de reformados» do MURPI realizaram inúmeras iniciativas que assinalaram a importância do Dia Internacional do Idoso.
«Quando comemoramos os 50 anos do 25 de Abril», lembrou que foi com a «força e dinamismo» das associações de reformados que «se criou o movimento libertador que envolveu milhares de idosos, em todo o País, esquecidos na sombra» e «participaram nas lutas pela conquista dos seus direito», num movimento que «nunca mais parou até aos nossos dias». «O MURPI, fundado em 1977, criou centenas de associações de reformados, pensionistas e idosos, cujos dirigentes tomaram nas suas mãos a concretização de projectos que iriam conduzir às actuais associações de reformados, que são o baluarte dos direitos dos reformados», valorizou Casimiro Menezes.
Porque a luta não tem idade, no final os participantes cantaram «Grândola, vila morena», o hino da Revolução dos Cravos. Tiveram ainda lugar outros momentos culturais, por exemplo, com a leitura dos poemasParar não paro, pela sua autora Ana Abel, e Frustração sentida por dentro, por Fernando Tavares Marques.
Desfile de reivindicações
Além do poder reivindicativo, as iniciativas de Lisboa e Porto permitiram dar uma maior visibilidade ao trabalho desenvolvido pelas associações de reformados, pensionistas e idosos (ARPI) do MURPI, de índole social, recreativo e cultural. Nesses espaços, os reformados partilham as suas experiências de vida e os seus conhecimentos, praticam exercício físico, fazem teatro, lêem, fazem artesanato, cantam, dançam, mantém vivos os jogos tradicionais e debatem diversas temáticas.
Em Lisboa participaram diversos grupos culturais e diversas associações, como as ARPI de Alpiarça, Almeirim, Benavente, Couço, Santarém, Montemor-o-Novo, Évora, Vila Nova de S. Bento, Odemira, Sines, Santiago do Cacém, Grândola, Marinha Grande, Peniche, Vieira de Leiria, Odivelas, Sacavém, Vialonga, Sobralinho, São João dos Montes, São João da Talha, Reboleira, Damaia, Amadora, Olivais, Ameixoeira, Oeiras, Alcântara, Montijo, Arrentela, Corroios, Quinta do Conde, Pinhal dos Frades, Casal do Marco, Santo André, Almada e Setúbal.
«Mais apoios às associações de reformados, pensionistas e idosos. Melhores pensões, mais saúde, fruição saudável dos tempos livres», lia-se na faixa que encabeçava o desfile, seguida de outras mensagens, plasmadas em faixas e cartazes: «Fim da especulação imobiliária. Pela habitação a que temos direito», «Pela saúde dos idosos, reformar o SNS», «Aumento de 7,5 por cento para todas as pensões, num mínimo de 70 euros», Exigimos dignidade. Não queremos caridade», «A Segurança Social é um direito», «Ampliar a rede de equipamentos e serviços de apoio».
Desfilaram entre palavras de ordem como «Reformados têm razão. Querem paz, saúde e pão», «O custo de vida aumenta. O povo não aguenta», «Direitos e dignidade. Sociedade mais justa para qualquer idade» e «A saúde é um direito, sem ela nada feito».
Solidariedade do PCP
Em Lisboa, o desfile passou por uma delegação do PCP, composta por Paulo Raimundo, Secretário-Geral, Fernanda Mateus, João Oliveira, da Comissão Política do Comité Central, Maria Adelaide Alves, do Comité Central, e Margarida Aboim, da DORL.
«Esta é uma luta justíssima», destacou Paulo Raimundo, que manifestou solidariedade com a luta daqueles homens e mulheres, «gente de trabalho» que «precisa de ter direito à dignidade» e a «condições de vida melhores», o que «passa naturalmente pelo aumento das pensões». Também o PCP propõe um aumento de 7,5 por cento para todas as pensões, no mínimo de 70 euros. Apesar de não resolver «o problema de todo», este deveria ser «um sinal no sentido do que é necessário», ao contrário da proposta do Governo que «fica muito aquém das necessidades desta gente», destacou o Secretário-Geral do PCP.
«Paz sim, guerra não!»
Em Lisboa e no Porto foi aprovada a moção «Parar a guerra. Pela paz no Médio Oriente», com os participantes a juntar a sua voz aos que no mundo inteiro exigem que se impeça uma maior e terrível tragédia na Faixa de Gaza. «É preciso parar de imediato os bombardeamentos e impedir qualquer invasão terrestre, que, a acontecer, pode provocar uma guerra generalizada no Médio Oriente, com consequências imprevisíveis no plano regional e internacional, mas sempre dramáticas», sublinha o documento, frisando: «Todas as vidas contam, todas as vidas têm o mesmo valor, todas as acções que visem populações são inaceitáveis e merecem a nossa condenação.»