Utentes acusam o Governo de estar a destruir o SNS
As dificuldades sentidas no atendimento dos serviços de urgência hospitalares evidenciam e demonstram «mais um violento» ataque ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) por parte do Governo. O MUSP já solicitou uma reunião de urgência com o ministro da tutela.
«É todo um processo de regressão civilizacional que está em curso»
Ao longo dos tempos, o Movimento de Utentes dos Serviços Públicos (MUSP) tem vindo a alertar para a situação de crise nas urgências. «A continuidade destas políticas permite-nos antecipar que o resultado final será a destruição das características essenciais do SNS, com a brutal redução da prestação de cuidados de saúde e, por consequência, o aumento das desigualdades no acesso ao direito à protecção na saúde», advertem os utentes.
Em nota de 25 de Outubro, o MUSP considera que a aplicação das Unidades Locais de Saúde «conduzirá ao desaparecimento de uma parte substancial das actuais valências nos diversos hospitais». As críticas estendem-se ao encerramento dos serviços de obstetrícia/maternidades e à desqualificação de muitos centros hospitalares, levando ao corte do seu orçamento para funcionamento e investimentos previstos, bem como à colocação dos diversos profissionais noutros locais.
A estas «dificuldades» somam-se as «actuais carências já sentidas ao nível dos Cuidados Primários de Saúde», com a falta de médicos e enfermeiros, e as «consequentes reduções nos horários de funcionamento».
Com tudo isto, antevê o Movimento, os utentes vão ver «dificultado ou mesmo impedido» o acesso a cuidados especializados e «o desenvolvimento social e económico do território sofrerá um retrocesso». «É todo um processo de regressão civilizacional que está em curso. Consideramos inadmissível tal decisão, lesiva dos interesses e direitos dos utentes, considerando ainda que está nas nossas mãos a defesa do SNS, consagrado na Constituição da República Portuguesa», salienta o MUSP.
Manifestando uma posição de «frontal recusa» a todo este processo de destruição do SNS por razões ideológicas e opção política», o Movimento exige a manutenção dos actuais serviços de urgência hospitalares, com o devido reforço de todos os profissionais, e promete «organizar e participar em acções de protesto ou outras que sejam consideradas adequadas à defesa dos interesses dos utentes, nomeadamente o pedido de audiência urgente ao Ministro da Saúde».
Apela-se ainda às comissões de utentes, aos profissionais de saúde e aos seus sindicatos e associações, e às populações em geral, para que «intensifiquem a luta em defesa do SNS».
Viseu
No dia 27 de Outubro, o Movimento de Utentes dos Serviços Públicos de Saúde lançou um abaixo-assinado em defesa do Serviço de Urgência Básica (SUP/SPS), que tem vindo a fechar as suas portas por falta de médicos, uma situação que não se pode manter.
Na petição – dirigida ao Presidente da República, ao Presidente da Assembleia da República (AR), ao primeiro-ministro, aos grupos parlamentares na AR e à directora executiva do ACES Dão-Lafões – refere-se que aquela unidade de cuidados primários serve as populações dos concelhos de S. Pedro do Sul, Vouzela, Oliveira de Frades e parte de Castro Daire, ou seja, cerca de 48 mil residentes, dos quais 25 por cento não têm médico de família. «Quer para as situações de efectiva emergência ou urgência, quer para as de resposta aos utentes sem médico de família, o SUP/SPS é a unidade de saúde de primeira resposta aos habitantes de Lafões e aos seus visitantes», informa o documento.
Os signatários exigem que se reponha desde já o horário normal de funcionamento do SUP/SPS, com a permanência dos médicos, dos enfermeiros e dos técnicos de saúde estipulados nos respectivos quadros de pessoal clínico.