CT da CGD volta a alertar para «atentado ao futuro»
«Está em curso um atentado ao futuro da CGD», protestou a Comissão de Trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos, em reacção a um inquérito em que o banco público foio pior na avaliação dos clientes.
É alarmante que o Governo ignore o «estado de emergência» da Caixa
Para a CT da CGD, «não obstante os resultados crescentes em milhões de euros», o caminho «decidido pela Comissão Executiva da CGD e sustentado pela tutela, de forma passiva e conivente, conduzirá a uma condição futura questionável, ao nível da sustentabilidade da empresa».
Em causa está um rumo «de perda de valências e competências e de quota de mercado, de venda de activos e património, de degradação de estrutura e meios humanos e de afastamento na relação com os clientes», como se afirma numa nota que a estrutura representativa dos trabalhadores da Caixa emitiu no dia 14.
Um outro alerta, como a CT da CGD agora recordou, tinha sido dado em Junho: «É demasiado preocupante o caminho que se está a percorrer e é alarmante que os responsáveis e a tutela ignorem o estado de emergência a que chegámos».
Em ambas as tomadas de posição, a CT pretendeu «despertar os responsáveis políticos para a sua necessária e urgente actuação» e contribuir «para que a população em geral tenha conhecimento do atentado que se pratica ao serviço público bancário e que coloca em causa o apoio aos cidadãos e à economia nacional».
Para lá da má imagem
A CT da CGD cita os resultados do inquérito anual sobre a satisfação dos clientes relativamente a instituições e serviços bancários, no número de Julho-Agosto da revista Dinheiro & Direitos, onde a Caixa «aparece num preocupante e nada “expectável”, último lugar».
«Por resultado das decisões da gestão», acusa a CT, «continuamos a assistir à degradação da imagem e dos níveis de serviço e notoriedade da CGD perante os seus clientes». A Caixa confronta-se «há vários anos» com:
– «Diminuição drástica e continuada dos recursos humanos, com perda acentuada de capilaridade, que diminui o acompanhamento de proximidade e de atendimento aos clientes»;
– «Lenta evolução dos meios tecnológicos para o automatismo de procedimentos e para o uso quotidiano dos trabalhadores na sua função»;
– «Cada vez menos produtos e serviços de cariz bancário, para ter como meio de reter e atrair clientes».
Com a Comissão Executiva a que Paulo Macedo preside desde 1 de Fevereiro de 2017, «há um custo acrescido para a marca CGD e para os seus trabalhadores», uma vez que «retira capacidade e condições de trabalho, ao invés de tornar a CGD efectivamente forte».
Isto sucede «não obstante o esforço de marketing e propaganda por parte da Comissão Executiva da CGD e as suas constantes narrativas suportadas por resultados astronómicos». A CT assinala que, nos relatórios e contas anuais, a apresentação de lucros «ignora o enorme peso de alguma engenharia financeira», dando como exemplo «operações de reversão de imparidades contabilizadas excessivamente em exercícios anteriores». Também não é considerado «o resultado de operações extraordinárias e pontuais de venda de património».
Assim, «a visão vanguardista de sucesso, que a Comissão Executiva da CGD insiste em fazer passar, esbarra nas críticas cada vez mais veementes dos clientes, que são a razão da sua existência», nota a CT.
Outros traços da situação
Em contraponto à «narrativa completamente distorcida» que a Comissão Executiva (CE) da CGD tenta difundir, em especial a propósito dos lucros obtidos (1462 milhões de euros, na soma de 2021 e 2022), a Comissão de Trabalhadores chamou a atenção para outros «dados igualmente relevantes» para o presente e o futuro do banco público.
Depois do Plano de Reestruturação 2017-2020, «imposto pelo Banco Central Europeu e aceite pelo Governo», a CE «insiste em prosseguir no caminho dos cortes e reduções, implementando por sua iniciativa o Plano Estratégico 2021-2024».
Remunerações
No período 2016-2022, os custos com os órgãos de gestão aumentaram 186,2%, enquanto os custos com pessoal diminuíram 24,5%.
Nos últimos dois anos, os prémios devidos aos trabalhadores não foram pagos na totalidade, mas o mesmo não sucedeu com os prémios dos membros de órgãos de gestão. Ainda neste biénio, os custos com pessoal diminuíram 0,7 por cento, mas os custos com os órgãos de gestão aumentaram 70,2%.
Na CGD recusam-se a aplicar o aumento salarial extraordinário de um por cento, decidido em Abril para a Administração Pública e o sector empresarial do Estado.
Estrutura
Naquele período, refere a CT, a CGD reduziu em 2272 o número dos seus trabalhadores e encerrou 196 agências. Em Janeiro, na AR, o presidente da CE da CGD tinha revelado que, desde 2010, fecharam 338 espaços de atendimento, um corte de 41 por cento.
Isto «compromete o fornecimento do serviço público bancário e de qualidade a todos os portugueses» e cria «condições de trabalho doentias».
Mas, observa a CT, aumentou em 50% o peso relativo do pessoal em funções de direcção, passando de dois para três directores por cada cem trabalhadores.
De 2016 para 2022, ocorreu também «uma preocupante perda de quota de mercado nos principais produtos». A CT refere a captação de depósitos (menos 4,2%) e a concessão de crédito (menos 4,0%), afirmando que a quebra é «reflexo de uma menor presença territorial e menor capacidade de resposta, fruto do emagrecimento cego da estrutura, em geral, muito em particular na rede comercial».