Os lucros recorde na Galp Energia e o «choradinho» patronal ofensivo
Perante a dimensão dos resultados intercalares do Grupo Galp Energia, «o choradinho dos impostos continua a não fazer sentido e é mesmo ofensivo para os trabalhadores», comentou a CCT da Petrogal.
No primeiro semestre os lucros atingiram 508 milhões de euros
A Comissão Central de Trabalhadores da principal empresa do grupo reagiu, em comunicado, à apresentação dos resultados, na semana passada. O presidente da comissão executiva (PCE) enviou ao pessoal «uma sopa de CFO, EBITDA, FPSO, HVO e outras siglas», procurando «servir os resultados às fatias, sem nunca referir a questão principal», que a CCT assinala: «os resultados do grupo no primeiro semestre foram excepcionais – 508 milhões de euros –, subiram 21 por cento relativamente ao mesmo período do ano passado e, a manter-se a tendência, será o segundo ano consecutivo a bater recordes». Ou seja, os números de 2023 serão «os melhores de sempre».
É neste contexto que a CCT critica as repetidas referências públicas, por parte da administração, ao volume de impostos a que o grupo está sujeito. Para a estrutura representativa, «perante a dimensão dos resultados, o choradinho dos impostos continua a não fazer sentido e é mesmo ofensivo para os trabalhadores, que sofrem as consequências do agravamento do custo de vida, também por conta das taxas de juro que não param de aumentar».
«Melhores, de certeza», seriam os resultados, se a refinaria do Porto continuasse a funcionar, defende a CCT, notando que os números agora apresentados resultam «essencialmente» do desempenho da refinação e dos negócios com o gás natural.
A CCT vê confirmadas as previsões de que o gás natural «é e será o vector principal da transição energética» e sugere «revisitar a possibilidade de aproveitamento dos recursos nacionais nesta matéria-prima, para também aí operar uma mudança necessária e ajustar o modelo de abastecimento energético às necessidades do País no actual contexto geoestratégico».
A sublinhar a pertinência deste alerta, a CCT lembrou«o episódio em que o grande irmão americano, ou melhor, uma das suas empresas que fazem o favor à Europa de lhe fornecer gás a um preço porventura bem mais alto que o russo, com a qual a GALP fez um contrato para fornecimento a vinte anos e que, para espanto dos mais incautos, não cumpriu as suas obrigações e preferiu vender a quem lhes ofereceu mais».
Quanto aos investimentos «cada vez mais urgentes» na refinaria de Sines, a CCT observa que «o PCE opta por manter a arrastada expectativa de lançar “brevemente” os projectos de hidrogénio verde e HVO [o chamado diesel verde]». A administração «continua com o pé no travão, em vez de acelerar, e desmente a intenção de assegurar a transição energética», protesta a CCT, no comunicado que intitulou «O que os accionistas querem».
Quadro único de direitos
Os trabalhadores da Galp Energia «querem continuar a trabalhar no grupo, mas nivelados por cima em termos de salários e direitos», ou seja, «“One GALP” – um único regime de contratação, uma única tabela salarial, um único quadro de direitos». Assim comentou a CCT os resultados do «Inquérito Pulso», num comunicado que teve por título «O que os trabalhadores querem», emitido a 28 de Julho.
Admitindo que «a realização de inquéritos aos trabalhadores não é nova na empresa», a CCT reconhece que «não deixa de espantar esta necessidade recorrente, por parte da administração, com recurso a consultores, para perceber o que os trabalhadores querem», para frisar que «o busílis reside sempre na falta de concretização efectiva das conclusões dos devidos inquéritos, quando as há».
Mesmo assim e como excepção, agora «houve uma resposta inequívoca», que a administração «não conseguiu esconder»: os trabalhadores «querem continuar a trabalhar no grupo, mas querem ganhar o mesmo que os outros que desempenham funções similares noutras empresas do grupo» e «vestem a camisola, mas pretendem uma tabela salarial, única no grupo, e um regime único de direitos, que a CCT identifica como Acordo de Empresa da Petrogal» (AE).
Um só vínculo, um só quadro de direitos e uma única tabela salarial tinham sido exigidos recentemente, pela CCT e pela Fiequimetal/CGTP-IN, num comunicado conjunto, em que defenderam a aplicação do Acordo de Empresa a todos os que laboram no Grupo GALP Energia.
No final de Junho, as duas estruturas divulgaram uma comparação dos direitos dos trabalhadores, sublinhando a urgência da uniformização, relativamente a matérias como horários de trabalho, férias, dispensas anuais suplementares, prémio de assiduidade ou prémio por resultados. Pelo AE da Petrogal vigoram, entre outros direitos que não constam na prática da GALP Energia: complemento do subsídio de doença, complemento da pensão de reforma, compensação de reforma, reforma antecipada após 25 anos de casa, complemento de pensão de sobrevivência, apoio a deficientes, subsídio de intervenção cirúrgica, subsídio por morte, subsídio de estudo, subsídio a filhos em idade pré-escolar, subsídio de casamento.
No AE da Petrogal existe uma tabela salarial, a qual não está definida na GALP Energia.