Muito pouco Observador

Manuel Gouveia

O Observador traz na sexta-feira um título que diz tudo sobre o que é este instrumento de formatação ideológica. O título é «As greves da CP só acabarão com uma privatização?».

A razão deste título é muito simples: os donos do Observador já decidiram que a parte lucrativa da CP (Lisboa, Porto, Longo Curso) é para ser entregue ao grande capital para este explorar, e já há uns meses que a campanha foi iniciada.

Ao mesmo tempo, a notícia do Observador mostra como este é uma máquina de manipulações: a greve de sexta-feira é da IP, da empresa que gere as infra-estruturas, não é da CP; afecta tanto a CP (pública) como a Fertagus (privada). Em que é que a privatização da CP acaba com uma greve na IP? Pois, não faz sentido... Aliás, a notícia desmente essa questão: a Fertagus privada só circula nos serviços mínimos da greve da IP. Tal como a CP. Mas o que importa é plantar a ideia, e tudo vale para plantar essa ideia.

O Observador chama «inferno» e «calvário» às greves na CP, onde teria havido «greves em metade dos dias deste semestre». Também podia ter descoberto que há uma empresa em Portugal com mais greves que a CP. Falamos dos CTT. Mas, claro, os CTT estão privatizados, estão no «paraíso» para usar a linguagem bíblica do Observador. E como estão no paraíso, o Observador nem fala das greves, nem muito menos no calvário que, para os utentes, é receber uma carta desde a privatização.

O papel alegremente desempenhado pelo Observador é o de um instrumento ao serviço das classes dominantes. Por isso nunca transmitirá a reacção – natural – de qualquer português a uma greve que lhe perturbe a vida: «Paguem aos homens!» É que os ferroviários sofreram, como todos os trabalhadores, um desgaste nos seus rendimentos muito superior aos 8% da inflação registada em 2022. E os seus salários não foram devidamente aumentados porque o Governo recusa que as empresas públicas possam aumentar os salários até compensar a perda salarial registada.

Isto sem esquecer que, de cada vez que os ferroviários rompem o tecto salarial, há muitos outros trabalhadores que são directamente beneficiados.

 



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