«Escândalo é desesperar pelo dia de receber»
Quem põe o País a funcionar, quem cria riqueza, tem de ser valorizado, insistiu Paulo Raimundo em Alcácer do Sal, onde salientou, ainda, que escândalo é empobrecer a trabalhar enquanto os grupos económicos acumulam lucros crescentes.
A valorização dos salários é urgente
No âmbito da campanha «Mais força aos trabalhadores», o Secretário-geral do PCP contactou trabalhadores da administração local e encerrou uma sessão pública, ao final da tarde de sexta-feira, 12.
Aos trabalhadores do município, que o receberam nos estaleiros já terminada a jornada laboral, Paulo Raimundo começou por lembrar que «para que haja iluminação, recolha do lixo, água e saneamento ou manutenção urbana, é preciso haver quem faça». Nesse sentido, defendeu que «aqueles que põem a economia a mexer» precisam de ser «respeitados e dignificados», designadamente que isso se traduza materialmente, «naquilo com que pagam as contas».
A valorização dos salários é urgente e «não vale a pena virem com ilusões», caso do IVA zero em alguns bens alimentares, medida que «não teve impacto nenhum nas nossas vidas», à excepção da «mudança da cor dos rótulos dos preços», acusou o dirigente comunista, que insistiu que o que é necessário é fazer crescer a remuneração base.
Questionado pelo Avante!, o Secretário-geral do PCP assegurou que o Partido vai continuar, como tem feito nos últimos meses em empresas e locais de trabalho dos sectores público e privado, a mobilizar os trabalhadores para a luta em torno do crescimento dos salários, a um nível capaz de fazer face ao brutal e constante aumento do custo de vida. E lembrou, como já o havia feito ao intervir para os operários e técnicos da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, que os trabalhadores têm vindo a perceber não apenas que só com a luta é possível «abrir a porta» a avanços, caso do sucedido em torno dos aumentos que o Governo foi forçado a decretar, mas, igualmente, que a atribuição de prémios e outras componentes extraordinárias, não é solução.
Não se aguenta mais
Ana, assistente técnica na CM de Alcácer do Sal, e Pedro, operário na mesma autarquia, delegados sindicais ouvidos pelo Avante!, concordam com o líder do Partido quanto ao crescimento miserável no salário e no subsídio de refeição, imposto pelo executivo de maioria PS. «Não se traduz em nada» quando «tudo aumenta todos os dias». E nada resolve quanto à injustiça que sentem aqueles que têm anos de serviço mas auferem mensalmente quase o mesmo que um trabalhador recém integrado no quadro. Daí terem também sublinhado como necessária a valorização das carreiras e das profissões, aproveitando, ambos, a oportunidade para testemunhar a existência de trabalhadores que já não aguentam mais, que chegam ao dia 20 já sem dinheiro, situações particularmente graves quando se trata de trabalhadores com filhos menores a cargo.
A mesma opinião partilha Anabela, trabalhadora dos espaços verdes na CM de Alcácer do Sal, que, já na sessão pública promovida na zona ribeirinha da cidade, acrescentou à reivindicação do aumento substancial dos salários, «a revisão da tabela salarial, a revogação do injusto sistema de avaliação na Administração Pública, a reposição das profissões e dos seus conteúdos».
Deixem-se de tricas queremos soluções
Na sessão pública, antes de Paulo Raimundo, intervieram igualmente Hélder Guerreiro, trabalhador da refinaria de Sines e membro da célula do PCP naquele complexo industrial, e Wanzeler Emanuel, trabalhador da construção civil. Um e outro para sublinharem que a melhoria das condições de vida dos trabalhadores só é possível com a sua organização e luta, com o reforço do movimento sindical de classe e do partido dos trabalhadores: o PCP.
José Santana, da Direcção da Organização Regional do Litoral Alentejano do PCP, trouxe, de resto, vários exemplos de conquistas recentes resultantes da luta laboral em empresas da região. Filipa Rocha, por seu lado, alertou da tribuna para a «preocupante» degradação do Serviço Nacional de Saúde, enquanto que Vítor Proença, presidente da Câmara, distinguiu o carácter diferenciado da gestão CDU.
Tudo realidades que contrastam com a sucessão de novelas mediáticas, com as tricas que abrem telejornais e fazem primeiras páginas para distrair daquilo que verdadeiramente marca a realidade da maioria do povo: «baixos salários, precariedade e horários desregulados, dificuldades de acesso à Saúde e a todos os serviços públicos, de garantia de uma habitação digna e comportável», acusou o Secretário-geral do PCP.
«Mas querem que falemos de escândalos para aparecermos nas notícias? Então vamos a isso», prosseguiu o dirigente comunista, para quem escandaloso é o contrate entre o milhão e 600 mil portugueses sem médico de família e os problemas que enfrentam médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, e «os senhores encaixarem 620 milhões de euros só em dividendos bolsistas».
Escandaloso, continuou, «é andarmos sempre apertados, a desesperar pelo dia de receber, que nunca mais chega», e «a EDP ter lucrado 306 milhões de euros e a GALP 250 milhões, só neste trimestre». Escandaloso é «ninguém aguentar mais aumentos» nas prestações do crédito à habitação e nas rendas de casa e «o conjunto da banca a operar em Portugal ganhar 9,5 vezes mais do que no resto da Europa»; é «três milhões de trabalhadores ganharem até mil euros brutos por mês» e «cerca de 700 mil trabalhadores não conseguirem sair da pobreza mesmo trabalhando todos os dias», enquanto «os grupos económicos lucraram, o ano passado, 7 milhões de euros por dia».
«É isto que é preciso atacar e resolver», realçou Paulo Raimundo, que insistindo que «enquanto uns querem perder tempo com distracções e teatros» para iludir que estão de acordo com a opção de fundo do Governo, casos de PSD, Chega, IL e CDS, «nós queremos soluções». Reclamou, assim, medidas muito além «daquelas limitadas e insuficientes que o Governo tem adoptado» e reafirmou que, «enquanto uns querem que tudo mude para que tudo fique na mesma ao serviço dos grandes grupos económicos, nós queremos uma política que tenha no centro das suas prioridades o bem-estar do nosso povo e o progresso do nosso País».