E sobre Portugal e os portugueses disse... nada
Na semana passada, no dia 10 de Maio, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (MRS), discursou na sessão plenária do Parlamento Europeu (PE), em Estrasburgo, um dia depois de Olaf Scholz aí também se ter dirigido aos deputados.
O chanceler alemão falou no chamado Dia da Europa – que a propaganda das instituições da União Europeia quer que substitua o Dia da Vitória (sobre o nazi-fascismo) – e, nesse dia, fala quem manda, para que não haja dúvidas!
Olaf Scholz falou da necessidade de mais armas e MRS começou por falar de paz mas também, paradoxalmente, da necessidade de continuar a apoiar (em armas, entenda-se) o esforço de guerra do governo da Ucrânia, desvalorizando os esforços políticos e diplomáticos em prol da paz que alguns pelo mundo estão intentando. No final, os discursos não foram assim tão diferentes.
O agravamento das condições de vida dos povos e dos trabalhadores foi tópico ausente de ambos os discursos. Em Portugal, o brutal aumento do custo de vida – nos bens essenciais, alimentos, energia e habitação –, não acompanhado pelo imprescindível aumento dos salários e das pensões e pela fixação e controlo de preços nos bens essenciais, está a deixar as famílias em sérias dificuldades. E sobre isso não houve uma palavra! Relativamente ao crédito à habitação, dias antes, MRS tinha feito declarações, dizendo que «é um problema que deve provocar uma reflexão sobre os prazos, as taxas e as prestações», e estando a banca, no momento actual, a acumular milhares de milhões de lucros, questionou «até onde deve continuar a ir a banca no sentido de compensar os anteriores períodos negativos com este período positivo». Ou seja, que a banca e os seus lucros compensem o apoio recebido anteriormente pelos Estados, protegendo agora as famílias e o seu direito à habitação.
Mas isto é coisa que fica bem dizer em Portugal, ainda que não se faça nada, mas em Bruxelas, junto de quem também tem responsabilidades no sufoco das famílias portuguesas, o silêncio cúmplice falou mais alto. Sobre isso e sobre a anunciada «reforma da governação económica da UE», que, como os deputados do PCP no PE têm afirmado, aprofundará e ampliará a intromissão por parte das instituições da UE e das potências que as controlam nas políticas e opções orçamentais, financeiras, económicas e sociais de Estados como Portugal, exercendo pressão para a redução do investimento público, para a estagnação dos salários na Administração Pública e para o desinvestimento nos serviços públicos e outras funções sociais do Estado, com os resultados que já conhecemos.
Foi um discurso enaltecedor das instituições da UE e da sua pretensa superioridade («pioneira», «a Europa vencerá»), que silenciou a voz do povo e dos trabalhadores portugueses.