Aktion T4, EUA

António Santos

A Fundação de Caridade para os Cuidados Institucionais até tinha «caridade» no nome, mas geria o Aktion T4, o monstruoso programa nazi para a «eutanásia misericordiosa dos doentes incuráveis» que «não merecem a vida». Mais de 70 mil pessoas com deficiência e doenças físicas ou mentais foram sistematicamente assassinadas até os soviéticos destruírem o regime hitleriano em Maio de 1945. Nos EUA, as instituições que gerem as prisões também costumam ter «correcções» no nome: «centro der extermínio de doentes e deficientes» não assentaria tão bem ao farol dos direitos humanos no Ocidente.

Dois exemplos só da semana passada: no Indiana, Joshua McLemore, de 29 anos, estava nas urgências hospitalares por causa de uma crise de esquizofrenia. Durante o surto psicótico que o levou ao hospital, terá puxado os cabelos de uma enfermeira. Foi imediatamente levado para a prisão do Condado de Jackson, em Seymour, onde foi deixado nu, numa cela de isolamento sem janelas, sem um cobertor, sem uma sanita nem um balde e apenas com uma intensa luz branca, ligada 24 horas por dia. Durante os 20 dias em que esteve preso, nunca foi observado por um médico; nunca foi acusado de qualquer crime e também nunca foi alimentado. O relatório da autópsia revela que morreu de fome. As imagens de videovigilância interior da cela comprovam o terror.

Na ala psiquiátrica da Prisão de Fulton, no Estado da Geórgia, ninguém sabe ao certo quando é que Lashawn Thompson morreu. Há três meses que nenhum guarda abria a porta da cela do homem de 35 anos com um longo historial de toxicodependência e diagnosticado com transtorno esquizoafectivo. Lashawn, que sobrevivia há anos como sem-abrigo nas ruas de Atlanta, tinha sido detido por ter cuspido num polícia, mas ainda não tinha sido condenado. Na semana passada, o advogado da família, Michael Harper, munido de fotografias chocantes de um cadáver mordido, imundo e coberto de parasitas, denunciou publicamente que o Estado da Geórgia condenou Lashawn a «ser comido vivo por insectos» num espaço «impróprio para um animal doente».

Desengane-se quem achar que estes dois casos numa única semana estão isolados. São somente a minoria dos que vêm a público. Segundo o Southern Center for Human Rights, na prisão de Fulton, a mesma em que Lashawn foi assassinado, 90 por cento dos reclusos estão «seriamente subnutridos».

A melhor credencial para ditar sentenças sobre Direitos Humanos não é a capacidade de desatar guerras em seu nome mas a forma como cada sociedade trata os seus elementos mais vulneráveis, entre os quais os seus doentes e a suas pessoas com deficiência.

 



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