Em França a luta não pára

Após a rejeição pelo parlamento francês de duas moções de censura ao governo, foi aprovada sem votação a reforma das pensões apresentada pelo governo e fortemente contestada nas ruas pelos trabalhadores. Mas a luta continua.

CGT considera «injustificada, injusta e brutal» lei aprovada pela maioria governamental

Com o chumbo na Assembleia Nacional, na segunda-feira, 20, de duas moções de censura para derrubar a primeira-ministra Elisabeth Borne, ficou aprovada em França a reforma das pensões promovida pelo governo, num clima de tensão política e social.

A oposição esgotou o recurso às moções para tentar travar um projecto rejeitado tanto pelo seu conteúdo, em particular a extensão de 62 para 64 da idade de reforma, como pela forma de o consagrar – a utilização do artigo 49.3 da Constituição, que evitou a votação do texto no parlamento, quando parecia muito difícil conseguir uma maioria.

Abundam as análises depois do sucedido no hemiciclo parlamentar, onde a moção de censura apresentada por um grupo de deputados independentes ficou a apenas nove votos de fazer cair Borne e seu gabinete, enquanto a moção proposta pela União Nacional, da extrema-direita, perdeu por ampla margem.

Uma sondagem efectuada pelo instituto Elabe para um canal televisivo, divulgada pouco antes das decisivas votações no parlamento, mostra que sete em cada 10 inquiridos queriam a vitória de uma moção de censura, entre eles metade dos que votaram em Emmanuel Macron na segunda volta das eleições presidenciais de Maio de 2022.

Se bem que a via parlamentar tenha chegado ao fim, prevalecendo a reforma do governo, as perspectivas podem estar longe de estar claras, já que a situação social em França é marcada por protestos massivos e amplas greves, que tendem a prosseguir e a alargar-se.

A Confederação Geral do Trabalho (CGT) reiterou que manterá a luta contra uma reforma das pensões «que todos, sem excepções, consideram injustificada, injusta e brutal». A rejeição das moções parlamentares não diminuiu a determinação dos trabalhadores, advertiu em comunicado.

A Intersindical, movimento que agrupa as principais centrais sindicais de França, já tinha convocado para hoje, quinta-feira, 22, a nona jornada nacional de mobilizações, depois das realizadas em 19 e 31 de Janeiro, 7, 11 e 16 de Fevereiro e 7, 11 e 15 deste mês, que levaram milhões de pessoas às ruas de Paris e de outras cidades de todo o país.

Combate prossegue, promete Fabien Roussel

O secretário nacional do Partido Comunista Francês (PCF), Fabien Roussel, assegurou que a batalha contra a reforma das pensões vai prosseguir com diversas acções contra uma lei que considerou «ilegítima».

O ex-candidato presidencial e actual deputado reagiu à votação na Assembleia Nacional das moções contra o governo e referiu-se em particular ao recurso ao artigo 49.3 da Constituição que atiçou o mal-estar, expresso no incremento de greves em diversos sectores e que começam a ter impacto na economia do país.

«Face ao caos provocado pelo presidente da República e seu governo, devemos permanecer unidos e determinados a conseguir que a reforma das pensões seja retirada no quadro do respeito pela democracia», afirmou o líder dos comunistas franceses. E mencionou «todos os meios à nossa disposição para fazer fracassar a lei», desde o recurso ao Conselho Constitucional até aos referendos de iniciativa partilhada, passando pelas mobilizações convocadas pelo movimento sindical.




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