Força e unidade das mulheres por uma verdadeira política de igualdade
Sábado, em Lisboa, a Manifestação Nacional de Mulheres voltou a ser uma jornada de denúncia dos problemas, de afirmação, de força e unidade das mulheres na defesa e conquista dos seus direitos. Em 2024, as comemorações do Dia Internacional da Mulher integram-se nos 50 anos da Revolução de Abril.
«Queremos viver, sonhar e ser felizes!»
«Apesar de você; amanhã há de ser; Outro dia; Você vai se dar mal; Etc. e tal; Lá lá lá lá laiá», cantavam as mulheres do Colectivo Pandeiro LX, enquanto não arrancava o desfile, promovido pelo Movimento Democrático de Mulheres (MDM), que se iniciou na Praça dos Restauradores e culminou na Praça do Município. Os versos de Chico Buarque – uma das mais conhecidas canções que criticam a ditadura militar brasileira (1964-1985) e que continuam válidos como nunca – ecoaram pela Baixa lisboeta, e foram acompanhados por palavras de ordem, também elas vigorosas e necessárias, como «Mulher escuta. O tempo é de luta», «Só se avança de verdade com direitos e igualdade» ou «Somos muitas, muitas mil, para continuar Abril!». Por isso, não faltaram os cravos rubros, símbolo da liberdade, mas também da força e da conquista.
Os Karma Drums – projecto do Seixal que transmite uma energia positiva e fortes emoções – chamava a atenção e mais pessoas para a Manifestação Nacional da Mulher, que, dia 4 de Março, no Porto, e agora, em Lisboa, voltou a exigir o direito de viver com dignidade. «Mil razões para lutar! Os direitos das mulheres não podem esperar», lia-se na faixa que encabeçava aquele «mar» de gente, vindos de Beja, Castelo Branco, Évora, Faro, Leiria, Lisboa, Litoral Alentejano, Portalegre, Santarém e Setúbal.
Noutras reclamava-se por «Salários a aumentar, para a vida mudar e a igualdade avançar», também «na escola, no trabalho e na vida», sendo «tempo de valorizar o trabalho» e de implementar a «Educação Sexual nas escolas».Entre muitas outras situações denunciadas, as trabalhadoras em arquitectura saíram à rua por «trabalho digno e com direitos» e as do comércio, escritórios e serviços por «horários dignos» para «ter direitos a vida pessoal e familiar».
Ali – entre a actuação dos grupos de Cante Ceifeiras de Pias, Coral Feminino de Viana do Alentejo e de Percussão «A Treze a Rufar», da Associação de Cultura e Recreio 13 de Setembro de 1913, bem como do Baque Mulher Lisboa – também se lutou por habitação, serviços públicos e qualidade e um Serviço Nacional de Saúde «mais forte», com mensagens dirigidas ao Governo:«O encerramento de maternidades, não garante saúde em igualdade».
Presentes estiveram ainda as reivindicaçõesda Associação Portuguesa de Juristas Democratas; Associação Juvenil Projecto Ruído; Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas; Comité Popular de Mulheres em Portugal; Saúde das Mães Negras; União de Resistentes Antifascistas Portugueses; Conselho Português para a Paz e Cooperação; Movimento Unitário de Reformados, Pensionistas e Idosos; Confederação Nacional de Organizações de Pessoas com Deficiência; Associação Portuguesa de Deficientes; Frente Anti-Racista; Federação das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto do Distrito de Lisboa.
Uma delegação do PCPmanifestou solidariedade com aquela acção e recebeu palavras de reconhecimento e gestos de afecto pelo seu papel – ao longo de 102 anos – em defesa dos direitos da mulher. Como destacou Paulo Raimundo, Secretário-geral do Partido, «as mulheres têm mil razões para lutar», quando são as «mais afectadas» pelo «desemprego, alvo de maior precariedade, que têm os salários mais baixos e são duplamente prejudicadas pelo aumento do custo de vida e no acesso aos serviços públicos». Com ele estiveram Manuela Pinto Ângelo, do Secretariado, Fernanda Mateus, Patrícia Machado, Paula Santos, Vasco Cardoso, da Comissão Política, e Sandra Pereira, deputada do PCP no Parlamento Europeu.
Presente esteve igualmente uma delegação da CGTP-IN, com a sua Secretária-geral Isabel Camarinha, a denunciar a degradação das condições de vida e desigualdade no trabalho a que as mulheres ainda estão sujeitas.
Paz
«Pela paz, pelo pão. As mulheres cá estão», «Nem tanques, nem munições. Nós queremos soluções» e «Paz sim, guerra não. A paz é soluções», foram outros dos recados, entoados, que, na intervenção de Érica Ribeirinho, tiveram maior desenvolvimento. «A guerra, o aumento das despesas militares, as sanções, estão a servir para promover a especulação, para uma minoria que dela se está a servir para aumentar os seus lucros, à custa do aumento dos preços de bens essenciais, impondo pesados sacrifícios a quem trabalha ou vive da sua pensão, com retrocessos nos direitos das mulheres e da população em geral, quando o que se impõe é promover o investimento produtivo, o combate ao desemprego e a promoção de emprego de qualidade, o aumento dos salários e das pensões, a melhoria das condições de vida», desmascarou a dirigente.
2024
A encerrar, Sandra Esteves, do Secretariado do MDM, anunciou que em 2024 as comemorações do Dia Internacional da Mulher terão na Manifestação Nacional de Mulheres um «momento especial na afirmação do significado desta data na luta das mulheres», bem como com os «50 anos da Revolução de Abril, acontecimento maior na luta emancipadora das mulheres em Portugal».
«Prosseguimos os objectivos que estão na origem do Dia Internacional da Mulher, instituído em 1910 e na primeira manifestação de mulheres realizada em diversos países no ano de 1911. Data que representa a luta das mulheres no século XX contra a exploração e subalternização que lhe era imposta na lei e na vida, e que no século XXI continua a ser um símbolo da luta das mulheres, doa a quem doer, porque os direitos das mulheres não podem esperar», reforçou, frisando: «A igualdade no trabalho e na vida, o fim de todas as formas de exploração e opressão continua a ser uma luta do presente».
Porque «não há futuro sem lembrar o passado», Sandra Esteves trouxe à memória a realização do Encontro Nacional de Mulheres promovido pelo MDM em Outubro de 1973, que «afirmou as razões de luta das mulheres em tempos sombrios»; o V Congresso Mundial de Mulheres promovido pela Federação Democrática Internacional de Mulheres há 60 anos, no qual participou uma delegação portuguesa dirigida por Maria Lamas, em que foi aprovada uma moção de solidariedade com os presos políticos em Portugal, entre eles Maria Alda Nogueira, dirigente do MDM, resistente antifascista, lutadora pelos direitos das mulheres cujo centenário do nascimento se assinala a 19 de Março; o 11.º Congresso do MDM, realizado em Outubro de 2022, onde se analisou o sentido da evolução da situação das mulheres em Portugal e no Mundo.
MDM exige:
# Respeito pelo trabalho e a valorização das carreiras e profissões;
# O direito a ter vida: de articular a vida profissional e familiar, a ter tempo para o lazer, para a família, mas também para a participação social e política;
# O direito a creches e à educação pública gratuita e de qualidade;
# Uma habitação digna e compatível com o salário;
# Que secombata o aumento do custo de vida, única forma de pôr fim à criminosa especulação;
# A fixação do preço de bens e serviços essenciais;
# O fim da multiplicidade de violências, porque a violência tem de acabar, onde quer que ela tenha lugar.