Estudantes contestam novo modelo de acesso ao Ensino Superior
Numa carta aberta contra os exames nacionais e pela valorização da avaliação contínua, 13 associações de estudantes pedem uma reunião com o ministro da Educação para debater o novo modelo de acesso ao Ensino Superior.
«Trabalho de três anos é resumido num teste de duas horas»
O documento surgiu na sequência da intenção do Governo de um «novo modelo» de acesso ao Ensino Superior, com três exames, em que o Português é obrigatório e os outros dois escolhidos pelos alunos.
«A pergunta que fazemos ao ministro da Educação é se tem ouvido os estudantes», que, «todos os anos, desde que fazemos exames nacionais, saímos à rua em luta pelo seu fim», afirmam os alunos na carta aberta, confirmando «esta prova como um método injusto de avaliação, onde o trabalho de três anos, para já não dizer de 12 anos, é resumido a um teste feito em duas horas». A isto soma-se o «elevada stress» e a «possibilidade de inconvenientes que nos façam ter uma pior performance na prova, destruindo, por vezes, a oportunidade de ingressarmos no Ensino Superior».
Desigualdades agravam-se
As AE alertam ainda o membro do Governo para as «desigualdades» entre os estudantes. «Por vezes ouvimos que são precisamente os exames nacionais que contribuem para uma maior igualdade entre os alunos, mas a verdade é que todos os anos provamos o contrário», constatam, dando como exemplo o ranking de 2022 (relativo às provas de 2021), com os primeiros 40 lugares a serem ocupados por colégios privados. «Como é que se espera que um estudante com difíceis condições sócio-económicas, muitas vezes sem apoio no estudo, sem possibilidades de pagar uma explicação, vá competir com outros estudantes com apoio aos estudos em casa, a estudar em escolas com outras condições, com explicações permanentes?», interrogam, assegurando: «Só a avaliação contínua pode criar as condições para que um estudante economicamente desfavorecido possa ter acesso ao Ensino Superior».
Outra questão levantada prende-se com a «forte redução na participação de alunos muito pobres nos exames nacionais», desde que deixaram de ser obrigatórios para a conclusão do Ensino Secundário (a partir de 2020).
A carta aberta foi inicialmente subscrita pelas AE das escolas secundárias Carlos Amarante, Santa Maria do Olival, Portela, Tenente Coronel Adão Carrapatoso, Cacilhas-Tejo, Camilo Castelo Branco, Doutor António Granjo, António Nobre, Pinheiro e Rosa, João de Barros, São Lourenço, Aurélia de Sousa e Escola Básica e Secundária do Pinheiro.
JCP defende avaliação contínua
Também a JCP considera que o novo modelo de acesso ao Ensino Superior «confirma o caminho da clara desvalorização da avaliação contínua, aumentando o peso dos exames nacionais, sob o pretexto da existência de notas inflacionadas, principalmente em escolas privadas». «Se há alguma dúvida sobre a fidedignidade do processo de avaliação de alguma escola, tem de ser essa escola a ser fiscalizada e não todos os estudantes que são com isso penalizados», afirmam os jovens comunistas, em nota divulgada no passado dia 9.
Para a JCP, «é necessário investir numa avaliação contínua, que valorize a aprendizagem e a formação integral de cada estudante e todos os períodos/semestres os estudantes são avaliados em vários momentos pelo professor que melhor os conhece (desde testes, trabalhos, apresentações)».
Exigem-se melhores condições para escolas do Cacém e de Amares
Os estudantes da Escola Secundária Gama Barros, no Cacém, estiveram concentrados, no dia 10, à porta da instituição.
Neste protesto reivindicou-se melhores condições no pavilhão gimnodesportivo, a criação de uma sala de convívio para os alunos e a reposição dos microondas no refeitório. «Estas são condições mínimas pelas quais os alunos lutam», afirma o movimento «Voz aos Estudantes», dando conta de que «estão a ser recolhidas assinaturas para um abaixo-assinado», que posteriormente será entregue à Direcção do estabelecimento de ensino, à Câmara de Sintra e ao Ministério da Educação.
Situação preocupante
A «Voz aos Estudantes» denuncia, também, a «situação preocupante» em que se encontram os alunos da Escola Secundária de Amares, Braga, onde é visível a «degradação das infra-estruturas». «Há problemas de humidade, existem buracos no tecto e no chão das salas, bem como paredes rachadas», adiantam os estudantes, referindo ainda que «o isolamento térmico é praticamente inexistente».
Para hoje, 16, está marcada uma concentração, a partir das 8h00, para exigir a realização urgente de obras no estabelecimento e o fim dos exames nacionais.