Programação da CTA para 2023: qualidade e diversidade
Com a sala do Teatro Municipal Joaquim Benite, esse magnífico e emblemático espaço cultural de Almada, completamente esgotada, decorreu, a 6 de Janeiro, a sessão de apresentação do programa a desenvolver ao longo do corrente ano.
Rodrigo Francisco começou por explanar a programação prevista, garantindo que a mesma foi desenhada tendo em conta os parâmetros que têm regido a CTA, ou seja, a aposta séria na qualidade e na diversidade, erguendo um teatro para todos, sem diminuir a exigência estética dos espectáculos a apresentar.
Dentro destes parâmetros, que constituem desde a sua criação o ADN da CTA, teremos já no próximo dia 20 de Janeiro, a reposição da peça Reinar Depois de Morrer, texto de um dos autores do siglo de oro do teatro espanhol, Luis Vélez de Guevara, escrito em 1635, baseado nos míticos amores trágicos de Pedro e Inês, traduzida pelo poeta Nuno Júdice, encenada por Ignacio Garcia e com cenografia de José Manuel Castanheira, que lhe valeu o Prémio da SPA para Melhor Cenografia, em 2019.
Em Abril a CTA estreará a peça Music-Hall, um texto do dramaturgo francês Jean-Luc Lagarce (1957-1995), baseado nos pequenos grupos de comediantes de teatro itinerante, que percorriam a França, na segunda metade do século XX, representando peças de cariz popular, em pequenas populações. É a nostalgia e a decadência de um tempo irrepetível, que este texto aborda, através das memórias de uma cantora de music-hall, encarnada aqui por Teresa Gafeira, e dos seus dois Boys. A encenação está a cargo de Rogério de Carvalho, esse grande senhor do nosso teatro contemporâneo.
A peça Calvário, de Rodrigo Francisco, encenada por ele próprio, é um texto de teatro dentro do teatro, ou seja, uma reflexão sobre o teatro, a sua estética e a sua função no mundo contemporâneo. A acção decorre durante os ensaios de uma das mais importantes peças do dramaturgo Thomas Bernhart, Minetti.
O título Calvário baseia-se num dos muitos chavões utilizados por gente de teatro, nomeadamente pelos antigos actores, que amiúde «tropeçavam» em falas que não conseguiam decorar: um calvário, diziam. Rodrigo Francisco, director artístico da CTA, promete que esta peça há-de ser uma comédia. Será?
A última grande aposta para a presente temporada da CTA, é o texto de Bertolt Brecht Schweik na Segunda Guerra Mundial, peça escrita pelo grande dramaturgo alemão aquando do seu exílio nos EUA, baseada no famoso romance do checo Jaroslav Hasek O Bom Soldado Shweik, cujo «herói» se tornou símbolo do absurdo que a guerra é.
Brecht e Piscator, outro dos grandes vultos do teatro moderno, conceberam vários projectos cinematográficos para Shweik, os quais nunca se concretizaram. A peça de Brecht só em Janeiro de 1957 teve estreia mundial, em Varsóvia e em língua polaca. As feridas da guerra ainda impediam voos mais largos.
Esta peça de Bertolt Brecht, a estrear em Outubro, terá encenação de outro dos nomes grados do nosso teatro, Nuno Carinhas, a quem cabe também a execução do cenário e dos figurinos. A direcção musical estará a cargo do pianista e compositor Jeff Cohen.
No último mês do ano, a CTA traz-nos mais uma peça infanto-juvenil, das muitas que percorrem este vasto e singular repertório para os novos públicos, desta feita numa peça elaborada por Teresa Gafeira e Pedro Proença, em torno de Picasso e dos seus universos pictóricos: Picasso Agarrado Pelo Rabo.
A programação do Teatro Municipal Joaquim Benite, não se limita, como sabemos, apenas às produções da CTA. Ao longo do ano passarão pela sala de Almada, outras disciplinas das Artes Performativas: a dança com a Companhia Nacional de Bailado, Vera Mantero, Barcelona Flamenco Ballet; numerosos grupos de teatro; a música erudita com a Orquestra Clássica do Sul, Orquestra Sinfónica Portuguesa; outras abordagens musicais, das quais salientamos Mário Laginha e Tcheka, Miguel Araújo, a Orquestra Jazz de Matosinhos, que abrilhantou a sessão em que foi apresentado este abrangente e diversificado programa de acção do TCA/TMJ. Ah!, não esquecer, na Galeria de Exposições, a exposição de desenhos em torno da obra de Shakespeare, desse artista maior que é João Abel Manta. Um ano em grande.